As ressurreições de Aniquilação

     Esse texto contém spoilers sobre Aniquilação

Filmes tematicamente diferenciados não são novidades dentro do mercado do cinema. Apesar disso, estão longe de ser bem aceitos pelo público em geral e até pela própria crítica, que muitas vezes acabam por deixar de lado a questão da interpretação dos reais significados que os realizadores geram em cima dessas obras. O caso mais recente a ter acontecido foi o de mãe!, de Darren Aronofsky, que acabou sendo extremamente divisivo no último ano. Sendo assim, “Aniquilação” – o mais novo longa da Paramount, que foi distribuído pela Netflix – parece trilhar um caminho extremamente parecido. É a arte se fazendo menos simples e mais complexa.

A mais nova película do diretor Alex Garland ( de “Ex-Machina: Instinto Artificial”) é uma obra difícil. Mesmo tendo sua camada de trama totalmente superficial sendo a invasão alienígena, o longa tramita em outras temáticas. Como as suas interpretações acabam sendo abertas, diversas teorias podem acabar surgindo, como o caso da autodestruição e pessimismo em relação aos humanos, que têm sido mais pensadas entre os cinéfilos e os fãs de ficção-científica. Mas, aqui, será falado de uma lado “otimista” e uma outra visão, na qual essas quase 2 horas podem também ter: a de amadurecimento.

O pensamento visto aqui começa mesmo do início da projeção. A invasão dos aliens, a criação da região brilhante e a volta de Kane (feito por Oscar Isaac), o marido de Lena (interpretada por Natalie Portman). Nesse momento, pode-se ter o primeiro vislumbre dessa ideia, aonde o realizador extrapola um pouco – devido a ser uma ficção-científica -, mas a chegada dele atônito e mudado gera um pingo na cabeça do público. Ele parece que descobriu coisas novas, amadureceu nos seus pensamentos e não sabe mais quem é aquele seu “eu” interior de antes. Sendo assim, aquela zona o transformou em outra pessoa. Seria esse lugar a vida?

Outro ponto para análise acontece na volta da personagem de Portman, nas cenas do interrogatório, que diz não se lembrar do que presenciou e parece, assim como seu companheiro, ter se juntado ao ser que ela viu. Sendo assim, eles se “conhecem de novo”, já que aquelas novas personalidades estão se descobrindo novamente.

Mais um pensamento que se adentra aqui é o do que é encontrado dentro da região. Desde enfrentamentos com animais exóticos (seriam as adversidades dentro do trabalho?) até adaptação com a natureza (se adaptar com a novidade?). Seria esse um confrontamento contra nós mesmos? É importante ressaltar que todas as personagens tem um lado quebrado por dentro, o que faz delas uma necessidade de renovação e amadurecimento. Além disso, o final com o lugar pegando fogo, pode ser uma interpretação como o fim daquela vida passada, o fogo naquele “eu” anterior e também como uma árvore da vida, algo próximo da mitológica nórdica com a Yggdrasil.

A tatuagem da personagem Lena é mais um reforçamento da ideia geral, já que ela possui um infinito no braço que vai crescendo no decorrer da trama, ou seja, no início ela não possui e isso aparenta simplesmente aparecer do nada. A explicação para isso é porque ela está passando por aquele processo, como se ela fosse marcada (com uma tatuagem?) por aquilo que está presenciando.

Bem, saber provavelmente nunca teremos uma real verdade, mas “Aniquilação” surge como um dos filmes mais interessantes do ano de 2018, se provando que o cinema nunca perderá seu senso de discussão e, sem sombra de dúvidas, de reflexão. Uma verdade absoluta é praticamente impossível, já que a cada revisita e lembranças, mais dúvidas do que respostas parecem ser plantadas.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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