Verão de 84 e a nostalgia dos anos 80

É realmente impactante perceber como os anos 80 retomaram o imaginário popular da cultura pop. Sem dúvidas, o maior expoente disso tudo é Stranger Things, porém diversas outras produções seguiram a mesma toada. Outro belíssimo exemplo é Paper Girls, seguindo em mesmos preceitos das referências do período. Nem filmes da Marvel fogem dessas questões, como Guardiões da Galáxia e suas músicas. Estreando nos cinemas nesse último dia 29, Verão de 84 busca seguir os mesmos passos. Apesar de não ser diretamente uma busca nostálgica por esses anos, ele o utiliza para criar sua própria narrativa.

E nela acontece tudo, justamente, no verão de 1984. Davey, feito por Graham Verchere, trabalha ali para conseguir um dinheiro vendendo jornais e os entregando nas residências. Ele, no entanto, vive momentos tensos pelo fato de um serial killer ter sido descoberto na região. Conversando com os amigos e percebendo comportamentos estranhos, ele começa que o policial Wayne, interpretado por Rich Sommer, seria esse procurado. Contudo, será realmente ou apenas uma série de coincidências misturadas? Com esse clima, somos postos em um universo misturado de um clássico slasher junto com produções mais adolescentes de amizade dos anos 80 – como Os Goonies e Conta Comigo.

Sob a direção de três nomes não conhecidos (Yoann-Karl Whissell, Anouk Whissell e François Simard), o longa parece querer brincar bastante com as memórias. Todo o primeiro e parte do segundo ato são bastante funcionais nesse aspecto, quando estamos sob o páreo de um suspense e filme adolescente. Toda a visão aproveitada por um lado meio turno por serem jovens observando a situação. Essa sinergia e até mistura de gêneros chegando a uma obra nessa roupagem até rememora bastante Super Dark Times, de 2017, na qual fez certo sucesso no ambiente mais independente.

Talvez a maior inconsistência desse trabalho seja o mais próximo ao seu fim, chegando a algo mais pesado e até tons de gore do nada. Poderia ser realmente algo mais funcional, até mais intrigante se feito com maior parcimônia. O problema fica em torno de uma necessidade de correr para com a trama em um período que a questão de gato e rato funcionaria até melhor. Além disso, essa tentativa de utilizar o ambiente do período como uma desculpa para acontecimentos soa também bem forçada. É funcional – mesmo já estando desgastado – em Stranger Things, contudo aqui esses questionamentos parecem mais jogados do que propriamente desenvolvidos.

Em uma parte voltada a um lado nostálgico mais forte sobre amizade, em outra uma grande trama de suspense, Verão de 84 soa como genérico quase sempre. Nos últimos anos, além dos já citados, It: A Coisa também seguiu a mesma toada. Ao fim de tudo, parecemos estar em uma roda de repetições e pouca tentativa nessa toada independente. Alguns filmes buscam desafiar mais todo esse gênero relatado e chegam até em pontos mais sensíveis, todavia nesse trabalho tudo parece ser menos do que realmente é.

Talvez faltasse um pouco de calma para os realizadores em perceber o papel de sua produção no meio dessa época. Com cada vez mais os anos 80 em voga, é um instante de maior reflexão. Até para não seguir os mesmos passos, os mesmos ritmos e acabar decaíndo nos mesmos ou em novos erros. Por isso, esse longa, parece um pouco deslocado de toda a temporalidade a sua volta. E isso, pode soar como bom ou ruim. Depende mais da visão da pessoa na qual assiste.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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