A explosão e a calmaria: o segundo ano de Barry
Estreando em 2018, em meio a diversas produções que poderiam ter chamado muito mais atenção, Barry chegou de fininho e finalizou seu primeiro ano como um dos grandes destaques televisivos da temporada (até do ano). Fato esse comprovado pela varredura que a produção fez na temporada de prêmios. O segundo ano tinha, então, a complicada missão de manter a qualidade da estreia e expandir as ideias apresentados anteriormente. E é isso que ela faz, da maneira menos esperada possível. Do jeito do seriado de ser, assim como aprendido anteriormente.
O último episódio terminava em um terrível cliffhanger. Foi uma decisão particularmente cruel, não só pelos eventos apresentados, mas principalmente pelo efeito que tais eventos trariam ao protagonista – e também ao seu mentor, Gene Cousineau. É a partir deste assassinato em particular que a segunda temporada se desenrola. Buscando entender ainda mais os efeitos desse passado do protagonista.
Mesmo após esse evento fatal, Barry Berkman continua tentando construir uma nova vida, livre de seu passado como assassino profissional. No entanto, a morte continua a seguir o personagem aonde quer que ele vá. Além de um ex-parceiro na qual insiste em manter-se presente da maneira mais inconveniente possível, ele ainda precisa lidar com as consequências que sua última matança trouxe para seu amado curso de teatro. Paralelamente, a polícia de Los Angeles continua investigando os acontecimentos no chalé de seu professor de teatro, cavando um buraco cada vez mais fundo de onde ele talvez não consiga sair.
Embora continue trazendo um plot principal instigante e engraçado, o maior mérito da produção continua sendo o desenvolvimento de seus personagens. Bill Hader entrega novamente uma atuação ímpar, acrescentando ao incomum protagonista uma característica pouca vista antes: a escuridão. Barry tenta a todo custo deixar seus crimes para trás, entretanto as circunstâncias o obrigam a manter-se em contato com esse lado sombrio, seja para ajudar sua namorada, para preservar o curso de teatro, ou até mesmo para permanecer vivo. Os eventos deste arco culminam em momento apoteótico, saído direto de um filme de Quentin Tarantino. É extraordinária a maneira como Hader equilibra com destreza os traços humorísticos, dramáticos e cruéis que o personagem traz. Além disso, Sarah Goldberg também ganha mais espaço. Antes, Sally exibia em alguns curtos momentos traços de uma personagem mais complexa do que a esperada de um par romântico. É aqui que o roteiro mergulha de vez não só em sua personalidade, mas em seu passado. Ela é tão real e problemática quanto qualquer outro personagem da série, seja ele um líder de crime organizado ou uma jovem atriz tentando conquistar seu lugar ao sol. Goldberg se torna até uma espécie de segunda personagem principal, por assim dizer.
Dito isso, é preciso ressaltar as qualidades narrativas e cinematográficas dessa temporada. O primeiro episódio foi dirigido por Hiro Murai, na qual trabalhou recentemente com Rihanna e Childish Gambino no filme musical Guava Island, além da prestigiada Atlanta. Quem também se destaca por trás da câmeras, novamente, é Hader. O comediante trabalha bem com planos-sequência, uma técnica que só aumenta os absurdos constantemente exibidos pela série. Um excelente exemplo disso é no quinto episódio, quando Barry é obrigado a cumprir uma missão que acaba durando bem mais do que ele gostaria. É um dos episódios mais insanos da televisão atual e um dos mais engraçados da temporada, flertando ao mesmo tempo com o terror e o suspense.
Barry – então – encerra seu segundo ano novamente como um dos melhores títulos do catálogo estadunidense, misturando efetivamente ação, comédia e drama. É uma obra buscando trazer novidades a padronizada de sempre comédia nos seriados. Essa narrativa insana mistura com uma realidade bem forte, instigando o telespectador a assistir tudo de uma vez só.