A Família Addams ao longo dos anos

No último dia 31, o cinema teve, pela terceira vez, a presença da monstruosa, mas amável, Família Addams, dessa vez em CGI e mais próxima visualmente das origens dessa excêntrica família. Apesar de Gomez, Mortícia, Wandinha  (Wednesday, em inglês) e Feioso (Pugsley) Addams serem mais conhecidos no Brasil por sua versão em carne e osso, no filme de mesmo nome dirigido por Barry Sonnenfeld, em 1991 – um dos grandes “clássicos” da Sessão da Tarde -, a história desses curiosos personagens começa muito antes, no final dos anos 30.

Em uma edição de 1938, a revista The New Yorker conta com um cartum: um vendedor, vestido de branco, tenta vender um aspirador de pó para duas figuras. A primeira é uma mulher esguia, com um longo vestido preto, e o outro um brutamontes barbudo, logo atrás dela. A casa é sombria, recheada de teias de aranha. É a primeira aparição da Familia Addams, cria do cartunista Charles ‘Chas’ Addams.

Sempre com tirinhas de um quadro, ele invertia a imagem da família americana tradicional. Ao invés de uma família sorridente, solar, temos algo mais gótico e sombrio, porém ainda amável, que engajava em atividades mais “tenebrosas”, como jantar um porco de duas cabeças e ter um polvo de estimação.

As tirinhas eram um sucesso, mas os personagens não tinham nomes nem características muito bem definidas. Isso tudo pelo menos até o surgimento da série de TV, em 1964, pelas mãos da ABC. Os icônicos estalar de dedos associados aos protagonistas surgiu na série, assim como suas personalidades. Algumas mudanças foram feitas na transição para as telinhas, em especial no visual mais atraente do patriarca e matriarca da família. Enquanto nas tirinhas Gomez era baixinho, atarracado, cabeça achatada e nariz de porco, na tevê ele ostentava ares de galã, enquanto Morticia adquiriu feições mais suaves. O tom também era mais exótico do que sombrio, algo que o criador original lamentava, apesar de admirar a produção do mesmo modo. Enquanto o seriado estava no ar, a New Yorker suspendeu a publicação das tirinhas, alegando conflito de interesse.

Entretanto, a série só resultou em um sucesso modesto, e durou duas temporadas, com um total de 64 episódios. Através de diversas reprises, o sucesso da Familía Addams aumentou, resultando em diversas outras tentativas de reviver a franquia, tanto em animação quando live-action, todavia nenhuma bem sucedida. O máximo durado era de uma temporada. Até mesmo um crossover com Scooby Doo foi feito.

Durante os anos 80, a franquia ficou congelada, sem nenhuma iniciativa de revivê-la. Até que em 1991, a Orion Films, detentora dos direitos da propriedade, iniciou a produção de um longa-metragem, inspirado mais na série do que nas tirinhas. A priori, a direção seria de Tim Burton, cuja a estética certamente se encaixaria com o universo, mas ele recusou, e o papel caiu nas mãos de Barry Sonnenfeld, algo na qual seria seu debute na função, tendo apenas trabalhado como diretor de fotografia previamente. O elenco contava com Raul Julia, Anjelica Houston, Christina Ricci e Christopher Lloyd. A produção foi bem conturbada e, após dois fotógrafos saírem da função, Sonnenfeld se dividiu entre as funções de diretor e fotógrafo. O orçamento original de U$25 milhões, cresceu para U$30 milhões.

Devido esses problemas, a Orion temeu ter um fracasso em mãos, e decidiu vender a produção para a Paramount. Entrentanto, a obra foi um absoluto sucesso de bilheteria, arrecadando pouco mais de U$ 300 milhões no mundo todo, cerca de 10x o valor de seu orçamento. A recepção crítica foi menos bem sucedida, com reações mistas – o filme ostenta 63% de aprovação no Rotten Tomatoes.

O lucro foi o bastante para garantir a sequência, A Família Addams 2, em 1993. O cenário aqui se inverteu, com uma produção tranquila e boa recepção crítica, mas um fracasso de bilheteria, arrecadando U$ 100 milhões de dólares no mundo todo. Isso, somado a morte de Raul Julia, intérprete de Gomez Addams, no ano seguinte, impediu a produção de uma terceira produção. Outro longa metragem até foi produzido em 1998, O Retorno da Família Addams, mas que não possui conexão com os filmes de Sonnenfeld. Esse de início, seria um episódio piloto para a nova séria da familia, todavia foi repensado para ser um filme isolado, diretamente para TV, e conta com Tim Curry no papel de Gomez Addams e Daryl Hanna como Morticia.

O novo filme da família que se encontra atualmente nos cinemas também tem uma longa história, na qual começa em 2010, com a ideia de se fazer um filme stop motion dos personagens, dirigido e produzido por Tim Burton. Mas, em 2013, o projeto caiu por terra. Até quem, em 2017, foi anunciado que Conrad Vernon iria dirigir a animação, que não seria mais stop motion. No ano seguinte, o elenco de dubladores foi escalado, com Oscar Isaac dando voz à Gomez, Charlize Theron como Morticia, Chloe Grace Moretz é Wandinha e Finn Wolfhard interpretando Feioso, além de participações especiais, como Snopp Dogg como Primo It.

De uma simples tirinha de quadro único, a Família Addams passou a ser um fenômeno cultural, na qual já dura mais de 80 anos e é reconhecido mundialmente. Apesar de poucos sucessos estrondosos durante sua existência, os Addams encontraram seu espaço, e são certamente uma das famílias mais icônicas da cultura pop.

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