A24 e a revolução dos filmes independentes
No final da década de 90 e início dos anos 2000, os blockbusters ocupavam cada vez mais seu espaço no cinema, tornando os filmes independentes como algo “de nicho”. Esses longas dificilmente ganhavam certo espaço, até mesmo quando possuíam elencos com nomes devidamente conhecidos. Mesmo assim, a luta por um espaço no meio da sétima arte nunca cessou. No início dos anos de 2010 (especificamente em 2012), Daniel Katz, David Fenkel e John Dodges criaram a empresa A24, um estúdio estadunidense para colaboração com cineastas sem muito recurso financeiro para produção. A partir daí, uma nova maneira de pensar a divulgação dessas obras se instaurou, tornando o que era independente adentro do mainstream.
No primeiríssimo ano, eles trouxeram películas que acabaram por não ter tanto sucesso de público e bilheteria mas se tornaram reconhecidos mediante críticas, como: “As Loucuras de Charlie” (dirigido por Roman Coppola), “Spring Breakers: Garotas Perigosas” (dirigido por Harmony Korine), “The Bling Ring: A Gangue de Hollywood” (dirigido por Sofia Coppola), “Ginger e Rosa” (dirigido por Sally Potter) e “O Espetacular Agora” (dirigido por James Ponsoldt). Iniciar produzindo dois nomes reconhecidos no lado mais indie – Harmony e Sofia – trouxe uma bagagem de originalidade e peso para o acervo.
Com esse estopim acontecendo, outras companhias de longas fora do eixo de grande dinheiro começaram a botar a frente planos de mercado como forma de confrontar o sucesso imediato. Dentro disso, a Fox Searchlight, braço autônomo da gigante 20th Century Fox, – que vinham em uma certa onda de marasmo – acabou por se obrigar a buscar produções ainda melhores. Dentro disso pode-se destacar, em um primeiro momento, “O Grande Hotel Budapeste”, “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” e “Brooklyn”. Todos esses 3 vieram a disputar o Oscar nos seus respectivos anos. O histórico da academia não é muito abrangente em termos de mercado, citando nomes importantes do cinema como John Cassavetes (indicado por ”Uma Mulher Sob Influência” e o roteiro de ”Faces”), por exemplo. Esse tipo de luta de reconhecimento no audiovisual mundial é parte fundamental de seu apelo, que muitas vezes só podem ser conquistados com o marketing ”adequado”.
Se a resposta de um lado veio forte, o contra-ataque também aconteceu. Dentro desses meados de 2014 até 2016, a A24 veio de uma maneira mais tímida, mas começando a ser lembrada nas grandes premiações. Para além desse fator, o lado realmente mais alternativo veio acima, o que facilitou obras que ficarão marcadas na história do cinema, como: “Sala Verde”, “A Bruxa”, “Ex-Machina: Instinto Artificial” e “O Homem Duplicado”.
Tudo isso acarretou em uma certa modificação do status que era estabelecido anteriormente. As grandes premiações começaram a realmente observar mais esses longas que vinham saindo. Mas, o fator que modificou tudo ocorreu por todo 2016 e chegou na premiação do Oscar de 2017, aonde “La La Land” parecia vir como franco favorito, mas acabou por desbancado por “Moonlight”, que foi realizado pela produtora. Com um dos menores orçamentos a ganhar a estatueta dourada, ‘apenas’ US$ 5 milhões e um ganho de US$ 66 milhões, o filme de Barry Jenkins elevou a disputa no meio independente e colocou a A24 na boca do público. Não é a toa que no último ano trouxe “Lady Bird: É Hora de Voar”, “O Artista do Desastre” e “Projeto Flórida”. Esses 3 que disputaram a maior premiação da sétima arte em, pelo menos, uma categoria.
Dentro disso tudo, o lado do streaming não pode ser deixado de lado. Para além da Netflix, que se tornou uma gigante na produção dos seus originais, a Amazon também tem buscado a produção de algumas obras de grande peso, podendo aparecer em futuras disputas de prêmio. Com uma estratégia de lançamento primeiro nas salas de cinema e depois no seu serviço de assinatura, tem ganhado credibilidade dentro da indústria e dos festivais. Dessa forma, pode acabar por aparecer como uma futura gigante, apesar da constante onda de rejeição por parte de um grupo do audiovisual mais ”tradicional”.
O futuro parece ainda muito promissor, já que muitos filmes devem surgir com muita força durante esse ano. Apesar dos blockbusters continuarem no seu domínio comercial, os longas de baixo orçamento ganham cada vez mais espaço, abrindo caminhos para a divulgação da produção brasileira no exterior. Sendo assim, os cinéfilos de plantão devem continuar torcendo muito para que, cada vez mais, obras autorais, diferentes e independentes movimentem a sétima arte.
Há quem diga que o objetivo de produtoras independentes é dominar o mercado, mas isso é só uma consequência do sucesso. Nomes independentes do cinema mundial desde seus primórdios são a prova de que o sucesso financeiro é o de menos, e que o que realmente importa é a afronta ao status-quo, a experimentação do novo e a janela aberta ao mundo que não tem sua atenção.