Cemitério Maldito e o medo da morte

A logo, o clima da floresta e o sangue na porta da casa já colocam um caminho complexo dentro de Cemitério Maldito. A família, construída como “perfeita” – seja em sua estrutura tradicional, seja em seu relacionamento – sofrerá consequências. Tudo isso é colocado claramente para o público nas primeiras cenas do filme. Entretanto, a morte se torna um presságio bem mais onipresente aqui. O medo de morrer, para onde podemos ir ao morrermos, a busca por respostas, a tentativa de contar para fila, entre outras mais. Essas questões são tratadas no longa como tema central, em realizar uma observação e tentar compreender, através do horror, o medo da morte.

Na história, uma família sai da cidade grande e vai morar no interior, numa pequena cidade pouco habitada. Logo ao chegarem, a filha mais velha Ellie (Jeté Laurence) vê uma procissão de crianças carregando o corpo de um animal. É assim que eles descobrem que moram perto de um cemitério de animais. Um lugar que é medonho de cara, ainda mais escondendo segredos muito mais profundos.

Ainda que a deixe bem clara, é exatamente dentro da temática que a obra se perde. Enquanto a criação desse clima, da encenação, dos ambientes funciona quase de forma antecipatória do terror, a consolidação desses elementos em comunhão soam extremamente simplistas e clichês. Os diretores Dennis WidmyerKevin Kölsch compreendem bem toda a suposição do tema, mas soam sempre simplórios ao abordá-los. Talvez a cena mais elucidativa disso seja quando Louis (Jason Clarke) e Rachel (Amy Seimetz) vão conversar com a filha sobre a morte de animais. Se, por um lado, o pai médico visa um quesito mais racional sobre o fim da vida, a mãe busca uma explicação religiosa. Tal tratamento poderia ser até intrigante ao ser explorado com maiores detalhes nas sequências aonde os sustos exacerbam. Mas, são apenas citadas aqui. Não servem em nenhum instante para enriquecer o debate proposto.

Nos momentos de terror, a produção caminho para sustos mais baratos e até bastante telegrafados. Alguns caminhos até são funcionais – como a relação da mãe com sua irmã quando mais novas -, todavia a grande maioria soa simplesmente comum. A música sai de cena, os barulhos se tornam baixos, para um susto advir a tela. Isso poderia ser usado também a enaltecer toda essa narrativa sobre o temor. Só que serve ao simples propósito de assustar. Para não ser injusto, é impossível não falar sobre as ocorrências dramáticas em torno dessas sequência, seja pelo lado familiar (a relação de pai e filha), pelo amor do casal ou até mesmo as irmãs, citadas anteriormente. Essa funcionalidade do drama, porém, serve apenas a um simples propósito de construção do susto nos segundos de maior impacto.

Existe também uma relação problemática na consolidação da cosmologia do longa. O universo, principalmente seu lado mais místico, tem bases formais bem interessantes. Toda a concepção relacionada a um lado mais espiritual (a parte na qual Louis pesquisa sobre os desaparecimentos), o suspense construído quando o gato é enterrado, as simbologias animalescas relacionadas a um lado mais semiótico. Em alguns períodos, chega a haver uma lembrança do bizarro apresentado em O Homem de Palha, de 1973. Tudo isso possui um lado bem colocado, mas altamente mal desenvolvido. Os diretores até conseguem estabelecer isso de forma diretriz aos acontecimentos, porém deixando tudo de forma bastante aberta. Poderia até ser bom falar isso. Aqui não é o caso, visto que a base da própria temática é intrínseca a esse lado.

Mesmo com isso em campo, é importante salientar a cena final. Apesar das edificações anteriores, especialmente no segundo ato, serem fracas, o clímax da obra possui uma carga emocional bem clara. Todos os atos marcantes e estrondosos da projeção, se configuram em uma cadeia bem própria ao fim. O núcleo familiar, inicialmente em conjunto e se desfigurando, assume uma outra forma. Talvez até seja um dos poucos momentos realmente funcionais para o susto, na qual exista uma quebra dessa tensão. O último frase fortalece isso perfeitamente, ao finalizar toda a dramaticidade presente nos instantes mais complexos dos cem minutos de duração.

Mesmo sabendo utilizar funcionalmente suas virtudes, Cemitério Maldito parece pisar em falso diversas vezes por seus defeitos. O horror, ponto chave aqui, parece o tempo todo renegado apenas a sustos baratos. A discussão sobre o medo da morte, aparece em sequências apenas mais claras, sendo deixadas em lado para a construção desses personagens. É um filme raso dentro dessa abordagem até chamativa, mas meio esquecível pela encenação de Dennis WidmyerKevin Kölsch. Quem sabe não é melhor mesmo ser queimado no cemitério maldito.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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