Circo Voador ‘pega fogo’ no lançamento de RASGACABEZA, da banda Francisco, el Hombre
Após a turnê de shows pelo Brasil e mundo do álbum SOLTASBRUXA, Francisco, el Hombre resolveu respirar o ar das novidades. RASGACABEZA parecia um desafio quase impossível ao vivo. Enquanto o primeiro trabalho parecia mais leve, ainda que intenso em apresentações, aqui essa carga pulsante vêm desde as músicas. Porém, o grupo parece conhecer muito bem seu material, suas próprias produções. Dessa forma, o show no Circo Voador (27/03), na qual se mostrava o início dessa turnê, parecia ainda uma incógnita. Mas, eles não possuem a fama que tem sem motivo. E fizeram o Rio de Janeiro realmente pegar fogo.
Inicialmente, parecia haver uma extrema expectativa. Sem iniciar realmente com nenhuma música, apenas trazendo essa sonoridade e a dança padrão, souberam trazer já os presentes para a mesma energia. Energia essa toda soltada em “CHAMA ADRENALINA:: gasolina” que, apesar de cantada em trechos, é pesada o suficiente para agitar qualquer um. Dava vontade de gritar para o Circo todo ouvir. Os integrantes absorviam isso e puxavam a audiência de forma intensa. A fala de ‘desembesta, Francisco el Hombre, desembesta’ para todos suarem já trouxe uma sinergia intensificada. O vocal Mateo entende isso como ninguém, trazendo diversos sons para buscar essa correlação cada vez mais. Essa intensidade no início serviu de forma precisa para estabelecer o equilíbrio na qual a apresentação teria.
Acostumados com shows de duração de uma hora, esse tempo aqui é dobrado. Felizmente, parece mais do que suficiente, todavia parece também nem um pouco ao Francisco. “MANDA BALA FOGO :: não preciso de você” e “Calor da Rua” jogam essa carga lá em cima ao mesmo tempo de demorarem mais tempo do que suas gravações. Elas pontuam uma crescente espera para seu ápice no refrão, fazendo todos os presentes pularem juntos. Novamente, todos os integrantes pareciam entender bem quem estava ali para vê-los e vice-versa. É impressionante a forma dessa realização.
No meio da performance a troca de faixas dos dois álbuns funcionou de maneira bastante interessante. Não acontece nenhuma ruptura pelo estilo do grupo permanecer presente a cada novo verso. Existe também uma correlação dos CDs permitindo isso fluir bastante. Apesar disso, é um meio na qual as vezes parece demorar mais para andar. Talvez uns ajustes dentro do setlist (como uma possível junção de “Triste, Louca ou Má” e “O TEMPO É SUA MORADA :: celebrar”), talvez uma busca maior pela letra em si e menos na interação. Falta muito pouco mesmo para essa perfeição se dar por completa, entretanto não pode dizer ser um fracasso. Mesmo com essas questões a parte, ele é funcional em nunca parar. É impressionante o fôlego e ritmo da banda durante todos os 120 minutos. Não existe descanso, de jeito algum.
Vale um certo destaque especial para algumas aparições ao vivo de músicas. As em parceria com o BRAZA trazem um tom quase brincalhão. “PARAFUSO SOLTO :: ponto morto”, cantada apenas por Mateo e Juliana em voz e violão, buscam um respiro necessário, ao mesmo tempo que fazem um bonito sentido dentro da narrativa apresentada pelo show. E, obviamente, o encerramento com “CHÃO TETO PAREDE:: pegando fogo”. Essa, um clímax sem fim. A dança, a musicalidade. Muito mais do que simplesmente uma música por si só, ela representa um ápice necessário a qualquer ao vivo. E eles sabe, como poucos no Brasil, fazer algo do tipo. Impossível não se empolgar.
Iniciando sua turnê de RASGACABEZA, o grupo Francisco, el Hombre parece entender bem a posição musical na qual eles ocupam em terras brasileiras. Acima de tudo, é uma das bandas mais inovadoras ritmicamente, trazendo um molejo necessário ao rock – um pouco esquecido no tempo. O show no Circo Voador serviu apenas para finalizar de vez quem tivesse algum dúvida. A política, intrínseca a isso, faz parte também de toda essa encenação de palco. Devemos sempre encher o peito para bandas do tipo aqui. E Francisco mostra isso sem deixar dúvidas.