Coluna do Pedro | Miley Cyrus traz um trabalho coeso e bem feito com o Plastic Hearts

Depois de muitos conflitos em sua vida pessoal e pouca aceitação do público, Miley Cyrus está de volta com seus mais novo trabalho: Plastic Hearts. A cantora, conhecida por ser ser muito versátil ao lançar uma nova fase em sua carreira, explorando diferentes gêneros, está mais próxima do rock do que nunca e traz referências dos anos 70 e 80, como é de regra em 2020. 

Na ativa de fato desde 2018, quando fez a parceria com o Mark Ronson em Nothing Breaks Like a Heart, a ex-Disney vem tentando concluir e entregar esse trabalho para o público desde então. Nesse tempo a cantora casou, se divorciou, sua casa pegou fogo, a avó morreu, entre outros problemas que impediram que ela conseguisse uma consistência de lançamentos ou que cumprisse o cronograma de 3 EP’s que se tornariam o álbum She Is Miley Cyrus.

Além disso, a maioria das músicas do Plastic Hearts já tinham sido vazadas em meados de abril e todos já tinham uma ideia do que viria, mas quando o álbum de fato chegou todas as músicas tinham sido produzidas de forma diferente e trabalhadas para que chegasse um álbum coeso para o público. 

E junto de Andrew Watt e Mark Ronson, os principais produtores, ela conseguiu entregar essa coesão. Quando lançou o She Is Coming, o primeiro da trilogia de EPs, ela já flertava sonoramente com o rock, especialmente em faixas como “D.R.E.A.M.”. No Plastic Hearts, ela se joga de vez no gênero, trazendo as guitarras, Billy Idol e Joan Jett para o mundo pop. 

A faixa inicial já dita como o disco vai soar e sobre o que vai dizer. Abrir com um baixo contrastando com uma letra que brinca sobre a persona polêmica da cantora é o melhor jeito de começar um CD que tem uma narrativa completamente pessoal. Com um dos melhores solos de guitarra do disco, “WTF Do I Know” é Miley dizendo para quem quer que esteja ouvindo que não vai mudar; Tema que retorna na faixa que fecha o disco: “Golden G String”. A balada termina a experiência de disco de forma mais reflexiva e menos agressiva. Miley mostra que amadureceu a ideia de que o mundo é esse lugar horrível e parece que já aceitou que vai ser sempre julgada, já que ela se julga também. 

Na verdade, a cantora se mostra muito auto consciente durante todo o disco. Mesmo sabendo que as músicas foram escritas com uma distância temporal grande do tempo que foram lançadas, o que passa para quem escuta é que foi um processo muito reflexivo. Quando ela canta sobre amar até se sentir chapada em “High” ou quando canta que não é culpa da pessoa que ela não consegue ser quem a outra precisa em “Angels Like You”, casa perfeitamente com tudo que ela traz de confissão em “Never Be Me”, onde admite que ela nunca será alguém estável, fiel ou exatamente quem a outra pessoa precisa. Enquanto essa toma um caminho de balada pop, sendo um dos destaques líricos do álbum, “Angels Like You” parece que saiu de uma sessão onde ela e os produtores ouviram muito Aerosmith e resolveram fazer algo inspirado. É ótima. 

A culpa que ela carrega em ambas músicas se confirma ainda mais “Hate Me”, onde ela se pergunta o que aconteceria se ela morresse, o que o antigo amado e os amigos fariam. Com um instrumental tão rock melodramático quanto a letra, é um dos melhores momentos do álbum, já que em seguida vem sua parceria com a Joan Jett: “Bad Karma”. Divulgada desde o MET Gala do ano passado, a antecipada faixa é uma quebra de tensão divertida que contém uma pitada de todo repertório country da cantora e admitindo junto de Joan, uma de suas maiores influências desde o início da carreiraque escolhe os romances a dedo, já que é uma pessoa que exige muito da outra. 

E outra lenda do rock que aparece por aqui é Billy Idol. O cantor se junta com Miley para cantar “Night Crawling”, uma canção pop punk que foi feita para esses dois cantarem, é a junção perfeita do mundo deles. Do mesmo jeito que “Prisoner” é a junção perfeita de tudo o que a Dua Lipa trouxe no Future Nostalgia e o que a Miley Cyrus pretende no Plastic Hearts. Com Olivia Newton John pulando de felicidade, as meninas fazem o melhor uso de um sample em uma música pop desde “Hung Up” de Madonna. É simplesmente muito bom. As vozes delas soam ótimas, é uma letra que fica na cabeça. É pop. 

Também é uma música que se destaca muito das outras, não tinha como não ser single, mesmo que não fosse um featuring com a Dua, ela é mais cativante e mais pop. Abre o meio de disco com um frescor diferente, é um destaque, assim como “Midnight Sky”. O primeiro single da nova fase foi lançado meses antes do álbum e deu o tom do que ela traria como estética e sonoridade. Aclamada como uma das melhores músicas do ano, mesmo sem posições altas em charts, a faixa tem uma enorme força e carrega sonoramente tudo o que o álbum faz. Além disso é uma das poucas que a cantora nao está dizendo que é uma pessoa difícil. Ela é assim e do jeito dela e não precisa ser amada por ele. Assim como ela não quer saber no futuro nem do passado em “Gimme What I Want”, uma música que saiu direto da coletânea “Britney Spears goes Rock!”, uma das melhores junto da faixa que dá nome ao álbum. Plastic Hearts tem um frescor ao ser uma música que não parece estar preocupada em se encaixar em alguma tendência, é simplesmente boa e líricamente divertida.

Em todas as versões o álbum vem com covers que a cantora fez durante a divulgação e que viralizaram nas redes sociais. Ela cantando “Heart of Glass” e “Zombie’ foi um dos motivos para que as pessoas voltassem a ter total interesse na artista, já que a sua imagem ficou desgastadas e distorcida por algum tempo. Interessante a escolha de deixar no final do álbum, quase uma forma de agradecer. 

Plastic Heart é um CD que traz Miley Cyrus em sua excelência, colocando um gênero que sempre rodeou sua carreira na sua discografia junto de lendas da música e aclamação pública. Trazendo uma nova estética e parecendo animada em trabalhar a fase, além de declarações sinceras e, pela primeira vez em anos, sem ser muito polêmica, a cantora atingiu um patamar artístico acima, se colocando, novamente, como uma das melhores de sua geração. 

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