Correspondência em Querida Sue: sobre cartas e sentimentos

O livro Querida Sue conta a história de Elspeth e David, duas pessoas que só passaram e ter contato graças a profissão dela: escritora. Elspeth mora numa ilha na Escócia e mesmo assim seus livros alcançaram David, que mora nos Estados Unidos. A partir disso, ele, como fã, começa a enviar cartas para ela e dessa troca de cartas, surge uma relação que começa como amizade e sutilmente vai rompendo a linha tênue que os separa de um romance. Elspeth (a quem David chama carinhosamente de Sue) é comprometida, mas isso não impede que todos os escritos recebidos de seu mais novo correspondente a façam hesitar sobre quem ela realmente ama.

Além disso, a dinâmica que envolve o leitor é bem diferente do que se está mais acostumado, pois segue a linha do romance epistolar, que consiste no seguinte: ao invés de toda a história ser contada através de uma narrativa direta dos fatos, quem lê fica sabendo de tudo que aconteceu apenas graças ao registro das cartas, dele e dela simultaneamente, em ordem cronológica. Isso faz com que não só haja conhecimento por cada detalhe, mas também nos permite praticamente sentir o impacto de cada palavra, cada decisão dos dois personagens, cada sentimento sendo descrito. Possibilita conhecer com mais realismo quem são os personagens envolvidos na trama. É como se um amigo nos mostrasse prints de suas conversas com alguém por quem ele teve interesse, e gradativamente for perceptível que há reciprocidade e crescimento no que se sente por esses dois. Por mais que seja uma história que não participemos, nos sentimos parte dela, torcemos pra que tudo se desenrole da melhor maneira e, claro, acabamos torcendo pela junção do casal.

A curiosidade pelos passos seguintes é cultivada em todo decorrer da obra, o que resulta numa leitura rápida, e ao mesmo tempo não tira do leitor o prazer de acompanhar cada trecho em particular. O romance entre os dois também vai sendo construído com muita naturalidade, não de forma forçada ou exagerada. Há sintonia evidente, mesmo que um esteja a quilômetros de distância do outro.

Além disso, as incertezas quanto ao amor não são as únicas preocupações que permeiam a mente de Elspeth e David. A época em que estão inseridos é época de guerra, o que faz tudo ser mais intenso ainda já que pode não haver sequer tempo pra que vivam esse amor que surgiu, com mais aproveitamento de tempo, ou algum possível encontro pessoal. As emoções de ambos ficam a flor da pele pelo fato de que qualquer decisão que tomem, acarretará em maiores consequências.

Tudo isso, torna esse livro uma representação de como o simples pode ser tão bonito se bem desenvolvido, afinal, poderiam ser apenas cartas trocadas, mas se trata de uma história pela qual vale a pena investir tempo lendo.

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