Crítica – Cinco Dias no Hospital Memorial
Cinco Dias no Hospital Memorial tem um aspecto que gera um interesse tácito do telespectador desde o primeiro momento: sua confusão. A trama vai do futuro ao passado, mas focando em diversos personagens dentro desse hospital momentos antes do Furacão Katrina varrer parte dos Estados Unidos, deixando cerca de 1800 mortos. Esse ambiente é o pano de fundo para tudo que irá acontecer dentro do local, que precisa tratar os pacientes urgentes que estão por lá, ao mesmo tempo que aqueles feridos que irão chegar após a tragédia climática. Porém, como fazer isso com uma estrutura completamente abalada? É possível? As respostas são não, como demonstra o seriado.
Pode parecer curioso, só que a minissérie da Apple TV+ é mais um thriller do que propriamente uma produção dramática. Ela foca menos nos efeitos diretos em termos de tristeza pela perda de alguém, e mais em uma investigação posterior pelo qual o público demora a realmente compreender. Nesse caso, é que 45 pessoas morreram nos efeitos do furacão no Memorial. Mas, por quê? Há algum motivo plausível? São esses questionamentos que permeiam a narrativa, que foca essencialmente em tentar observar a dinâmica desse espaço e como ela foi brutalmente afetada.
John Ridley e Carlton Cuse fazem de Cinco Dias no Hospital Memorial em, como dito anteriormente, um grande suspense de artimanhas. Entretanto, se, inicialmente, o lado investigativo por parte do público se concentrava na confusão de histórias e apontamentos – em que nunca realmente sabemos quem está certo -, com o tempo isso vai gerando mais cansaço do que verdadeiramente interesse. A série se embola dentro das mesmas situações e parece até se colocar como um joguete de repetições em determinados momentos. Isso é bem claro em Anna Pou (Vera Farmiga). Confusa, ela nunca quer tomar alguma decisão sobre o que fazer com os pacientes. Porém, eventualmente, acaba tomando, o que gera ainda mais indecisão. É um ciclo que, com tantos personagens, transforma a trama em excessivamente inchada.
Aliás, o thriller por si só, tão empolgante pela curiosidade, vai se transformando em enfadonho com o decorrer dos episódios. Se, por exemplo, a primeira temporada de True Detective tem a mesma estrutura, porém sabe manter o telespectador como alguém totalmente amoral dentro dos relatos, aqui a obra coloca quem assiste como um apontador a todo instante. É como se precisasse se juízes, mas ao mesmo tempo que tenta fugir de colocar algum valor nesses acontecimentos. No fim das contas, parece que as perguntas dos começo, quando estão finalmente iniciando a serem respondidas, são ignoradas.
De fato, o que mobiliza Cinco Dias no Hospital Memorial é a curiosidade. Em uma história que parece até meio absurda para ser real, o telespectador se mantém engajado para ser que fim levou isso. Entretanto, como uma adaptação de um relato jornalístico real, tudo vai se transformando em um tanto quanto óbvio e esquecível. Talvez faltasse realmente entrar de vez no jogo do suspense construído até a metade da minissérie. Só que esse jogo serve apenas a parte do gigantesco casting, que, quase como em uma novela, aparece cerca de 5-10 minutos por capítulo. Só que, por lá, há tempo de desenvolver todos os núcleos pela quantidade de episódio. No seriado, não.