Crítica – Filho da Mãe

Paulo Gustavo está marcado para sempre dentro da história do humor do nosso país. Isso é um fato consumado. Seja pela maneira como atraia tantas pessoas para discutir temas sérios, ao mesmo tempo como conseguia se relacionar com o público para falar sobre o cotidiano. E isso em tudo. Desde suas peças, suas séries na televisão, seus filmes como Dona Hermínia e, obviamente, as apresentações que fazia com a mãe, intitulada Filho da Mãe. Era uma espécie de show sobre tudo, desde discutindo relações, até mesmo contação de história (em um esquema meio stand-up) e apresentações musicais. Parecia ser a conjunção de personalidades e talentos dele.

Dessa forma, se inicia o filme que ganha o mesmo nome, Filho da Mãe. Inicialmente, a ideia era falar sobre a carreira do ator, porém tudo ganhou outra dimensão com sua morte, em 2021, por causa da Covid-19. Dessa maneira, o longa, dirigido por Susana Garcia (que chegou a trabalhar com ele antes) e também pela irmã de Gustavo, Jú Amaral, se transformou em uma gigantesca homenagem ao seu trabalho e a toda relação com a família. Uma espécie de “ato final” que o comediante sempre mereceu, dado o sucesso que conseguiu consolidar em um público geral. Não a toa, Minha Mãe é uma Peça 3 virou o filme brasileiro com maior arrecadação na história.

É claro que a relação com a mãe, Déa Lúcia, é o ponto chave para todo o desenvolvimento do documentário. A relação entre eles no passado e pouco antes da morte são a centralidade para entender todo o próprio universo de Paulo Gustavo. Seus trejeitos, sua forma de ser, tudo isso tem uma conexão intrínseca com a mãe, que foi homenageada na peça Minha Mãe é uma Peça e o resto é história – o início e o desenvolvimento delas contados no filme. Isso é o estopim para abordar toda o tema central da obra, que é contar o amor do ator pela família.

Obviamente, vemos aqui um documentário chapa branca, que não quer estabelecer lados ruins do seu personagem principal (apenas a fragilidade antes da morte). Em certo olhar, faz até sentido, visto que parece um momento ainda para celebrá-lo em vida – mesmo que algumas dessas celebrações sejam deixadas de lado, como a homenagem no samba-enredo da escola de samba São Clemente, que acabou rebaixada no Carnaval carioca. Sendo esse o foco, entendemos desde cara como a conexão de toda a família é um ponto importante para a forma como ele criava a comédia. Desde com aqueles de nascença, ou seja, o pai, a mãe, os irmãos, até mesmo a que constitui com o marido, e os dois filhos.

Aliás, é até interessante como Garcia e Amaral usam as imagens de arquivo, que parecem trabalhadas sempre de formas um tanto quanto espaçadas. Em alguns momentos, Filho da Mãe usa e abusa delas para construir maiores entendimentos sobre esse personagem (a cena em que ele anuncia que terá dois filhos para a família é uma delas). Em outras, parece que o longa busca trazer isso mais pelos olhares de amigos, que ganham grande espaço falando sobre ele. Pode soar até repetitivo, e talvez falte certo repertório para trazer mais o que essas pessoas agregam perante a trajetória de Gustavo. E isso acaba ficando de lado em muitos momentos, em prol de uma emoção extremamente genuína com o telespectador.

Longe de querer ser perfeito, Filho da Mãe tem uma intenção bem clara de ser quase um prólogo na vida de Paulo Gustavo. De ser uma verdadeira homenagem, uma lembrança para uma vida com tantos altos e poucos baixos, mas que ficou marcada em toda a população de um país. Apesar de um documentário um tanto quanto confuso na abordagem, ele funciona ao tentar gerar uma conexão com público e ser uma lembrança de um vida de trabalho. Mais do que isso, de um comediante gay que mudou para sempre a comédia de um país.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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