Crítica – Miss Marx
Karl Marx é, definitivamente, um dos autores mais relevantes do século XIX e XX. Mesmo com as diversas discordâncias ideológicas entre as pessoas do mundo, e até podendo retratar sobre sua obra não ter sido tão boa, sua relevância é óbvia e clara. Não a toa, os anos 1900 foram marcados pela dualidade entre o capitalismo e o comunismo, vertentes com propósitos e ideias e diferentes. Mas, após a morte de Karl, como será que a família lidou com isso, especialmente em relação a seus conceitos revolucionários. É disso que se trata Miss Marx, que vai abordar a trajetória de vida posteriora morte do autor de Eleanor, a filha mais velha.
E o mais interessante de acompanhar a trajetória pela ótica dessa mulher, é por conta da sua relevância também histórica na sociedade – muitos dos pensamentos advindos do pai. Um dos exemplos é ela ter um das primeiras mulheres a relacionar o feminismo e socialismo, além de ter participado da luta de trabalhadores pelo direito das mulheres e da abolição do trabalho infantil. É um retrato de uma vida que acabou sendo construída em pensamentos por conta de toda a vida do pai,
Susanna Nicchiarelli realiza uma obra que busca trazer a tona diversos pontos de sua vida pessoal e também dessas reinvidações que fez. Quando estamos em momento de maior estouro político, é curioso como a cineasta busca um olhar mais distante, menos em closes e mais em planos abertos. Ao mesmo tempo que gera uma imensidão para poder ouvir Eleanor, também transforma aquele olhar como se ela fosse a frente de seu tempo, sendo impressionante a posição de poder que assume. Porém, em circunstâncias mais íntimas, temos um caminho muito mais abertado e até claustrofóbico, como se a pensadora não pudesse parar de pensar em momento nenhum de sua luta – já que ela faz parte de quem a protagonista é.
Nesse sentido de cinebiografia, Miss Marx é até bastante comum. O que Susanna mais se utiliza para poder fugir de algo tão rotineiro é na trilha sonora, ao trazer músicas punk sempre cantadas por mulheres. Chega até a ser uma brincadeira com o movimento Riot Grlll (a qual já abordamos um pouco nesse texto), como se Eleanor fosse uma percursora disso. Em uma cena em especial, há até todo um sentimento de libertação da protagonista, cantando a música e dançando de forma bastante agressiva. É a maneira da diretora retratar essa tentativa constante de libertação dessa jovem, a qual está sempre amarrada, seja por amores, ou pelo pai. É a busca de sua liberdade como pensadora e pessoa física.
Contudo, o filme não reverbera e nem vai muito em frente nesses elementos. Poderiam ser interessantes em um debate no momento de mundo que mulheres buscam cada vez mais ganhar seu papel. Porém, a obra parece querer apenas representar aqueles acontecimentos, sem dar um peso real a tudo isso. No final, Miss Marx acaba por ser um longa que até tenta, em momentos, sair de uma cinebiografia tradicional, com os dramas e certos momentos cômicos. Todavia, parece só mais um, em uma imensidão. É uma pena para uma personagem tão curiosa e que poderia trazer tanto.