Crítica – Monstro do Pântano (1ª temporada)
Logo que estreou no canal de streaming DC Universe, a série Monstro do Pântano sofreu um grande baque: a primeira temporada seria a última. Baseada nas histórias do personagem de certo renome criado por Len Wein e por Berni Wrightson na editora Vertigo, a obra parecia ser um novo início para a DC na televisão. Anteriormente, já havia produzido na CW The Flash, Arrow, Supergirl e Legends of Tomorrow. Embora todas tenham tido certo sucesso de público, sempre receberam críticas medianas e pareciam seguir um padrão. Com a possibilidade de abertura para produções mais adultas e diferentes, esse parecia ser um pontapé, junto com Titãs e Doom Patrol. Será que realmente foi?
Na história, tudo é bastante parecido com as HQ’s de origem. Abby Arcane (Crystal Reed), retorna para sua cidade natal, a pequena Marais, na Louisiana. Ela começa a investigar uma espécie de vírus mortal que está atingindo a região e tem relação com um pântano próximo. Nisso, conta com a ajuda de Alec Holland (Andy Bean), com quem acaba desenvolvendo um romance. O problema acontece quando Alec é exposto a esse vírus e acaba se transformando em um monstro cheio de algas. Ele passa a ser perseguido pelo governo local e especialmente pelo cientista Jason (Kevin Durand), que busca entender melhor o que ele é.
Talvez realmente o lado mais interessante e bem desenvolvido dessa primeira temporada seja a relação entre os personagens. Algo recorrente nos quadrinhos originais, a relação entre Abby e Alec, após a transformação, passa de estranheza para uma conexão a mais. Nisso, existe uma papel bem consolidado para mostrar todo o drama vivido pelos dois nessa questão, além da consolidação do universo, feito pelos showrunners Gary Dauberman e Mark Verheiden. Além disso, os pequenos ciclos dentro da cidade, seja pelo lado científico ou político, abrem ainda mais a análise da monstruosidade estar na população ao invés da figura temida.
Dentro desse conceito da cidade, existem certos fatores mais persistentes. Talvez o principal deles esteja em torno de Avery Sunderland (Will Patton), o principal antagonista. Seu dilema encontra-se em controlar todos e em entender a situação provocada pelo vírus. Ele parece desdenhar de alguns, enquanto busca uma possessividade com outros, especialmente sua esposa Maria (Virginia Madsen). Todas essas questões, todavia, acabam por aparecer muito em momentos específicos, construindo um personagem caricatural na maior parte do tempo. É estranho perceber como ele pouco tem seu próprio desenvolvimento dramático, nem mesmo em um sentido de suas motivações.
Com esses lados abertos, a obra tenta começar a colocar aos poucos elementos mais claros de suspense e horror. O primeiro é até bastante funcional em, pelo menos, mais da metade dos episódios. Contudo, o terror tenta aparecer em jeitos espaçados, sempre colocado em torno de uma situação específica. Não há uma construção de clima como a cidade representa esse horror. Obviamente, o lado mais pertinente fica em torno da ambientação espacial do pântano, como uma degeneração real desse ambiente urbano. Enquanto a cidade mascara as pessoas, a podridão por si só demonstra elas de verdade. Apesar disso, é tudo feito muito mais segmentadamente quanto deveria.
Ao fim, a primeira temporada de Monstro do Pântano parece ter muito mais alegrias do que tristezas para poder demonstrar. Não propriamente dentro da narrativa, mas sim em um desenvolvimento de história diferente do que já foi feito pela DC em produções anteriores. Em um universo repleto de possibilidades – igualmente demonstradas na cena pós-créditos do último episódio dessa temporada – é um erro de trajeto o cancelamento da série. Caso o objetivo da obra tenha sido iniciar uma trajetória de universos e lugar na qual a editora no audiovisual jamais esteve, esse pode ser um início. Até porque a concorrência vai ficar cada vez maior, especialmente pelos seriados anunciados na Disney+. Resta para a Warner apenas decidir qual linha ela deseja seguir.