Crítica – No Ritmo do Coração

Uma frase que você já leu antes mas que define muito bem No Ritmo do Coração: você já viu esse filme antes. Uma jovem aspira a ir além dos limites que lhe são impostos, seja por morar em um lugar que é longe de tudo e, portanto, sem grandes perspectivas, ou por uma família que não a entende muito bem. Só de filmes recentes com elementos similares pode se pensar em Lady Bird: A Hora de Voar ou até mesmo A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, onde Katie e seu pai se desentendem um pouco sobre as vontades da jovem.

Mas há algo que destaca o longa de Siân Heder de todos os outros que soam tão similares, que é o núcleo de personagens, composto por uma família surda e muda, com somente uma pessoa capaz de ouvir, Ruby (Emilia Jones). Ela divide seu tempo entre a atividade familiar da pesca, de onde tiram seu sustento, ajudando o pai, Frank (Troy Kotsur) e o irmão, Leo (Daniel Durant) a se comunicarem, seja negociando peixes ou no rádio do barco, e a escola, onde encara problemas típicos de uma adolescente, como o crush platônico que ela não sabe muito bem como se aproximar.

Uma oportunidade de mudar de vida se apresenta quando um professor de canto descobre o talento de Ruby para a música, algo que também é sua grande paixão. Isso pode se traduzir em uma bolsa de estudos para uma faculdade distante dali, o que a coloca em um dilema, afinal, ela é o único meio de sua família conseguir ser entendida pelo mundo que os cerca, como eles seguirão suas vidas sem uma intérprete?

Ano passado, O Som do Silêncio também lidou com a deficiência auditiva, trazendo um protagonista cuja jornada não era de “superação”, mas sim de se aprender a viver com a condição, nunca a colocando como um problema, como uma nova forma de experimentar a vida. No Ritmo do Coração é similar, já que a condição da família Russo jamais é percebida dessa maneira, o problema está mais na inabilidade do mundo ao redor de lidar com isso.

Assim, o que temos são personagens que possuem fortes características que vão além da deficiência, Frank é completamente apaixonado pela sua esposa – o que é demonstrado em uma das cenas mais engraçadas do filme -, adora fumar um baseado e até mesmo ouvir rap da maneira que pode, sentindo as vibrações da música, e constantemente vemos Leo no Tinder e flertando com outras pessoas. Heder é muito sábia em deixar a linguagem de sinais falar por si mesma, dando uma expressividade gigante para as cenas, é por meio dessa linguagem que as melhores piadas do filme ocorrem.

Só que a exploração da surdez vai além do uso extensivo da linguagem de sinal. Uma das cenas explora de maneira linda como a família de Ruby pode ter a experiência de testemunhar o canto da sua filha: pelas expressões dos outros. Enquanto Ruby se apresenta, No Ritmo do Coração adota a perspectiva da família, portanto, sem som, mas Heder mostra o rosto dos outros membros da plateia, com os pais e irmãos da protagonista percebendo que, sim, a filha possui algo incrivelmente especial dentro dela.

Assim, reafirmo, você provavelmente já viu algo parecido com No Ritmo do Coração antes, a estrutura da sua história pode ser encontrada em várias outras produções, porém é bem executado, e aqui e ali, existem aqueles momentos que elevam o todo, o destacando dos demais.

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