Crítica – Panquiaco

Em Panquiaco, o olhar distante, contemplativo, é uma presença constante. Cebaldo (Cebaldo de Léon), o protagonista, é visivelmente um homem que está um pouco perdido no seu cotidiano. Ele realiza suas tarefas, conversa com pessoas, mas o marasmo predomina. Senta em um bar com sua cerveja, um homem fala com ele, porém mal responde, seu olhar permanece distante.

A aflição de Cebaldo é exposta por meio da inteligente montagem e composição da diretora Ana Elena Tejera, que constrói duas linhas temporais que se comunicam por meio de sua oposição. O passado ganha ares nostálgicos já na sua proporção de tela, mais reduzido, parecendo um home movie. É aconchegante em combinação com as cores mais quentes e a suavidade dos movimentos. Nessas imagens, vemos um povo indígena, e seus hábitos, rituais, etc. As imagens do presente são maiores, enfatizando o vazio, frias, estáticas. A partir da associação dessas imagens, é possível entender o que aflige o protagonista.

Panquiaco é a história desse homem indigena, que há décadas atrás se despediu de sua família e partiu em direção à Europa, por onde circulou até parar em Portugal, onde o filme se inicia. Pouco se sabe de específico sobre o passado dele, a qual chega a comentar com alguns pescadores que já morou na Rússia por alguns anos. Mas sua interação com outras pessoas é meramente funcional, na maioria. Nos seus dias predominam a sensação de vazio. Acompanhando a história de Cebaldo, Ana Elena conta, por meio de letreiros, a lenda do índio Panquiaco, que guiou colonizadores espanhóis para que estes encontrassem o caminho do mar.

Esse primeiro momento do longa tem um enorme sucesso em transmitir o drama do personagem por sua forma, funcionando em uma lógica poética muito interessante. Nada está claro, mas também não é difícil de entender o que se passa. A tristeza de Cebaldo se expressa somente por olhar. É uma produção que confia na força de suas imagens.

A partir de certo momento, a trama dá uma virada, e Cebaldo parte em busca de se reconectar com suas raízes, e retorna ao Panamá, sua terra natal – e também da diretora – onde reencontra seu irmão, Fernando. Daí, o protagonista tenta recuperar o tempo perdido, buscando saber o que houve com seus familiares e voltar a ter contato com a tradição indigena. Entre a ficção e o documental, o retorno desse homem ao seu lar é contado. Ao adentrar em território mais, digamos, “comum” – o que antes era preenchido com imagens agora conta com diálogos – Panquiaco perde um pouco da sua força lírica, mas segue se apoiando nos ambientes e nas pessoas. Os locais frios e urbanos da primeira metade dão espaço para banhos de rio, as conversas vazias agora são rituais indígenas cheios de vida e movimento. Panquiaco se perde um pouco entre a ficção e o real – as conversas entre irmãos nunca tem a espontaneidade do real -, mas quando se apóia unicamente em imagens, deixa uma marca indelével.

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