Crítica – Stillwater

Bill Baker (Matt Damon) é americano, muito americano, ao ponto da caricatura, com seu onipresente óculos escuros e boné, predileção por fast food, tatuagem de águia e uma série de detalhes que o marcam como a imagem perfeita do americano médio. Não surpreende que sua postura seja similar, acreditando poder se meter em qualquer assunto, mesmo quando é explicitamente requisitado que não se faça esse tipo de coisa.

Logo, quando ele é informado de que existe uma pequena possibilidade de provar a inocência de sua filha, Alisson (Abigail Breslin), cumprindo uma sentença de 9 anos na França por ter assassinado sua namorada, e que a advogada que lida com o caso não fará pedido de reabertura da investigação, sua visão de mundo só permite uma coisa: que ele mesmo tome as rédeas do caso, mesmo não falando uma palavra em francês e sendo, conforme suas próprias palavras, um “estupido”.

Stillwater

Assim, Stillwater tem um pouco de Busca Implacável, mas no lugar de um agente cruzando a França na base da porradaria, temos um homem comum fazendo uma investigação contando simplesmente com a boa vontade dos outros, enquanto passa a se envolver mais e mais com a cultura local. É um filme com dois eixos narrativos, que nem sempre conversam muito bem, operando de modos bem opostos.

Um tanto surpreendente é que o longa, dirigido por Tom McCarthy, não dê maior espaço para o aspecto de thriller do filme, mas sim para a jornada de redescoberta de Bill, que encontra até mesmo uma nova chance em um papel paterno, cuidando de Maya (Liliu Siauvaud) e se envolvendo com Virginie (Camille Cottin), mãe da menina, com o seu americanismo sendo fonte de comédia e de nervosismo na mesma medida, “você votou no Trump?” pergunta uma das amigas de Virginie em determinado momento; Enquanto em outro, a tolerância de Bill com o racismo de outra pessoa enerva Virginie de modo muito profundo. Nesses momentos mais casuais, Stillwater lembra um pouco 15:17 – Trem Para Paris, sem querer comparar McCarthy com Clint Eastwood, evidentemente, mas sim no sentido do filme ser um americano passeando pela Europa, enquanto um evento muito mais dramático se torna periférico a isso.

Com essa causalidade imperando, a parte mais investigativa do filme, envolvendo a pista que pode inocentar Alisson, acaba se tornando um estranho apêndice na narrativa, especialmente nos seus momentos finais, que destoam completamente do que o longa seguia até então, com o protagonista, aí sim, se tornando um Bryan Mills de baixo orçamento, perseguindo e sequestrando o possível verdadeiro responsável pelo crime que prendeu sua filha.

Mesmo com seus tropeços, Stillwater é um interessante filme de “peixe fora d’água”, com Baker servindo de metonímia para a ideologia americana como um todo. Não culpo quem olhar para o filme em um primeiro momento e enxergar uma típica história de patriotismo e de como os Estados Unidos são incríveis, mas a realidade da produção é bem distante disso.   

Esse texto faz parte da nossa cobertura da Mostra de São Paulo 2021

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