Crítica – The Boys in The Band
Colocar diversas pessoas para interagirem em um único local, com o intuito de testemunhar como elas se relacionam entre si, quase sempre é um experimento interessante. Filmes como 12 Homens e Uma Sentença e O Anjo Exterminador fizeram uso desse dispositivo dramático com bastante eficiência, um para explorar as tensões de uma reunião de juri, o outro para dissecar os costumes burgueses dos personagens. The Boys in The Band é mais uma produção dentro desse molde, mas que analisa um grupo de homens gays nos anos 60, seus problemas internos e com o mundo que os cerca.
O longa, adaptação de um peça da Broadway de mesmo nome por Mart Crowley e dirigido por Joe Mantello, tem seu foco em Michael (Jim Parsons), um alcoólatra em recuperação com problemas de autoestima, organiza a festa de aniversário de seu amigo Harold (Zachary Quinto) em seu próprio apartamento. Lá, ele reúne alguns amigos para o evento. São eles, Donald (Matt Bomer), o bonitão cobiçado por todos que não consegue parar em um emprego decente; Larry (Andrew Rannels), o “pegador” do grupo, que vive em uma relação conturbada com Alan (Brian Hutchinson), que preza por manter a imagem de homem hétero; Emory (Robin de Jésus), o mais afeminado do grupo; e Bernard (Michael Benjamin Washington), o único negro da trupe.
O que era para ser uma festa sem complicações ganha outros tons quando um antigo amigo hétero de Michael, Alan (Tuc Watkins), aparece sem grandes explicações no apartamento de Michael, pedindo para conversar com ele. A partir daí, as tensões entre aqueles homens passa a aumentar, o que se soma ao esconderijo a sexualidade para o novo participante.
Cada um dos personagens incorpora uma “faceta” da experiência homossexual: o enrustido, o mais espalhafatoso, o inseguro e assim por diante. É uma complexidade bem vinda, já que não cria uma imagem monolítica da população LGBT, porém é evidente que alguns ganham mais atenção que os outros. Assim, algumas tramas acabam sendo deixadas para trás. Por exemplo, no ínicio do filme, é evidente a atração que Michael sente por Donald, com sequências dedicadas para mostrar o olhar do primeiro para o corpo bem definido do último, mas essa atração nunca mais fatora na trama.
Se bem que o que não falta ao longa são problemas ou tensões na relação entre esses homens. Mantello, que também dirigiu o revival da produção na Broadway em 2018, aposta em uma câmera mais distante, convertendo aquele espaço numa espécie de palco. Isso porque sempre há uma certa distância dos personagens para com a tela – close ups são raríssimos, por exemplo – e o diretor abre mão de uma construção visual mais específica para dar espaço para os atores, tal como uma peça mesmo.
Vale lembrar que a Netflix já trouxe outra peça para ser adaptada nas telas: American Son. Mas, se lá o resultado era um tanto desengonçado, aqui funciona um pouco melhor, já que a ideia de um palco se encaixa bem diante da história, porque todos esses homens atuam, já que precisam sempre esconder a sua sexualidade diante da sociedade. Nesse sentido também, a atuação do elenco é de importância vital para desenrolar da narrativa, pois são eles que efetivamente carregam a produção, e todos os atores estão bem confortaveis em seus papéis. O maior destaque é para Bomer, que abre o filme com uma imagem de galã um tanto estereotipada, mas aos poucos vai construindo uma figura bem sensível; e Quinto, que encarna a figura de Harold ácida com tanto prazer que a sua revelação é até tratada com suspense por parte da direção – assumo que dei uma risada com a sua primeira aparição.
The Boys in The Band não se preocupa em atualizar o material original. Embora as tensões ali presentes sejam atemporais, o mesmo não dá pra dizer do modo como a película trata outros assuntos, como raça, Mas, como um todo, funciona, mesmo que por vezes um pouco mais de personalidade na linguagem visual do filme faça falta.