Crítica – The Wilds: Vidas Selvagens (Primeira Temporada)

Histórias sobre pessoas perdidas em uma ilha ou local deserto não são novidade alguma. O cinema já produziu aos montes e talvez a série que mudou os rumos da TV nos anos 2000, Lost, seja a maior representante desse estilo no mundo da serialização. Assim, o questionamento surge: como trazer algo novo e diferente dentro de tramas do tipo? Como ser verdadeiramente inovador nessa questão? A busca por The Wilds: Vidas Selvagens é bem clara: dar voz a adolescentes nessa circunstância. Através da voz delas, tentamos nos entender em um universo que parece que nenhuma é compreendida.

Mas a história se inicia um pouco antes. Nove adolescentes americanas – algumas que moram próximas e outras nem tanto – acabam por embarcar em uma viagem de autodescobrimento. Elas todas iriam para uma ilha com a intenção de redescobrir valores, questões internas e também a ‘serem mulheres’. A situação acaba não dando certo já que o avião em que elas estavam cai em um local totalmente deserto, sem nenhum sinal de vida nas proximidades. Porém, tudo começa a soar estranho quando uma delas morre de forma misteriosa, o que gera dúvidas sobre qual seria o lugar aonde elas iriam.

Com 10 episódios, essa primeira temporada de The Wilds: Vidas Selvagens sabe trabalhar bem um aspecto dentro da narrativa: o elemento do suspense. O entendimento sobre tudo que está acontecendo é sempre entrecortado com lembranças da ilha por parte das meninas, que agora contam sobre tudo para dois investigadores. A curiosidade para saber sobre isso atiça bem mais o telespectador do que propriamente a vivência das protagonistas nessa localidade, já que soa como algo a ser construído ‘tipicamente de jovens’. Por exemplo, brigas ocorrem frequentemente sobre as meninas que são consideradas mais ricas e ‘patricinhas’, ao mesmo tempo que a produção realiza episódios para descolar essa mesma imagem. É tudo trabalhado como se fosse óbvio – e é mesmo.

No entanto, algumas personagens conseguem ter o desenvolvimento melhor trabalhado, devido especialmente a aparecerem no episódio de outros. Os maiores destaques talvez sejam Martha (Jenna Clause) e Nora (Helena Howard). Ambas perpassam pela vida de outras pessoas, tendo relevância suas participações para um maior entendimento sobre aonde a trama está querendo ir. É claro que nem tudo são flores e o seriado não esquece de soltar algumas coisas prontas e mais clichês do gênero adolescente, contudo elas são trabalhadas tão melhor que, ao fim, nos importamos verdadeiramente sobre o que poderia acontecer com ambas.

O mesmo não pode ser dito de todo o desenvolvimento da protagonista da história, Leah (Sarah Pidgeon). Apesar da forte tentativa dos roteiros e da direção em transformar ela em alguém que sofreu para se tornar da maneira que se tornou, é esquisito como tudo soa meio falsificado, pelo fato de alguns comportamentos serem semelhantes da personagem. Assim, a grande revelação da última cena colocada sobre ela chega até a ser mal desenvolvida, como se essa tivesse alguns passos a frente de todos as outras personas da série.

Ao fim de tudo, The Wilds: Vidas Selvagens até tenta cumprir seu papel, mas parece a todo instante que quer chegar em algum ponto que ainda não entendeu qual. Talvez em novas temporadas isso possa aparecer de forma mais vêemente, porém, em seu primeiro ano, o seriado parece tão agarrado em uma perspectiva de agradar uma determinada fatia do público adolescente, que esquece de verdadeiramente idealizar um desenvolvimento da narrativa. Há espaço demais para isso, já que a história se repete até muitas vezes. Porém, tudo soa como apenas um grande elemento para reforçar a primeira frase de Leah quando está sendo entrevistada: “você não sabe o verdadeiro pânico que é ser adolescente nos Estados Unidos”.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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