Crítica – ! (Trippie Redd)
Os questionamentos claros colocados logo na faixa de abertura de !, novo álbum do rapper Trippie Redd, já parecem mostrar uma insegurança. Talvez essa seja a principal palavra a se definir esse trabalho, muito marcado por um certo receio de tudo dentro das letras. O ponto de exclamação mostra um certo alarme dentro de si mesmo sobre tudo, sobre a sociedade e sobre os próprios medos. Não a toa, essa temática vai ser parte frequente de uma nova geração do trap, a “segunda” sendo possível falar assim. A morte de XXXTentacion é mais um pano de fundo para toda essa questão e melancolia inerente.
E isso perpassa por boa parte de todo esse CD. Trippie parece querer fazer algo muito mais particular e sobre suas próprias experiências de vida. Existe alguns momentos na qual é quase possível perceber uma conversa com si mesmo, algo muito feito por Kendrick Lamar em To Pimp a Butterfly e até em AmeriKKKa’s Most Wanted, albúm de estreia da carreira solo de Ice Cube. Se nesses dois trabalhos anteriores esse lado bastante drepessivo é muitas vezes tratado como um jeito de reinventar na música, em !, Redd acaba seguindo um caminho mais de olhar. Ele tenta olhar a sua volta, sobre sua relação com tudo, porém sem buscar ir além.
Por isso, em “I Try” e “Immortal” (canção com The Game) é possível ver até um lado meio comum dentro do trap. A voz bastante modificada, a batida meio perdida e um senso estético um tanto quanto perdido. Por um lado, é um grande reflexo de uma geração abalada por todos os problemas a sua volta e necessitando resolvê-los, por outro é uma representação um tanto quanto repetitiva tratada pelo cantor. Ele parece querer olhar para si mesmo sem realmente tentar refletir sobre a sociedade, passando sua trajetória junto disso. Em muitos instantes, vemos um álbum confuso por esse sentido expresso.
Toda a construção visual acaba gerando uma certa correlação mais direta nesse sentido (os diversos clipes lançados podem ser vistos aqui). Ele, em um espaço quase inteiramente branco, gera uma personalidade e geração de uma persona bem própria e desiludida com tudo. Existe até uma certa sinergia com a construção de When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, de Billie Eilish. E quando esses períodos mais calmos e voltados a uma interação interna de seus pensamentos, é quando realmente o trabalho parece crescer mais. Canções como “Be Yourself”, “Snake Skin”, “Throw it Away” e até a final, “Signing Off”. Quando há essa reflexão bastante interessante e até diferente para a atualidade da música, existe algo bem maior feito por Trippie.
Em todo esse sentido e consolidação, ! parece um álbum muito mais interessado em voltar os olhares para si mesmo. É uma reflexão intrigante, ainda mais pelo fato de Redd possuir apenas 20 anos, mas segue uma tendência da juventude da atual geração. Se a busca por si mesmo tem estado cada vez mais confusa, isso acaba sendo trasnposto para a arte de diversas atitudes e formas possíveis – como é possível ver também nas artes plásticas e HQs.
No fim, o CD acaba sendo mais exaltado que tropeçado por esse grande e complexo caminho. Apesar de buscar falar sobre sua própria vida e existência, buscando não morrer e sobreviver aos acontecimentos, o rapper também olhar aos seus na sua volta. Não a toa, pareceu um dos nomes da música mais afetados pela morte de Tentacion, citado antes. É um trabalho complexo e que poderá ser compreendido bem mais a cada nova audição, como jeitos diferentes de observar a existência de todos. Se a morte está eminente e parece bater a porta, Trippie Redd prefere colocar uma exclamação para isso do que realmente ir afundo.