Documentário conta a história do Emocore no Brasil
Dentre os movimentos musicais que figuraram no Brasil com muita força entre o final dos anos 90 e início dos 2000, o emocore talvez tenha sido um dos mais marcantes. Não apenas pelo seu estilo único, porém também por toda a relação com o emo no mundo inteiro. Esse movimento passou de ser apenas um estilo musical e passou a ser chamado de também um estilo de vida, algo na qual gerou certas polêmicas posteriormente. Enfim, tudo isso envolveu a força do emocore no nosso país durante esses anos. E é sobre que se trata o documentário Nem Tudo Que Acaba Tem Final.
“Eu sempre quis produzir algo referente ao emocore. Desde quando tava no colégio, há mais de uma década, permeava uma vontade de realizar algo sobre a cena”, relata Igor Néder, diretor, roteirista e editor do filme. “Daí anos depois, já na faculdade, vi a oportunidade de colocar em prática o que sempre quis, com a bagagem técnica que adquiri desde que me mudei pra São Paulo.”
Com 40 minutos, a obra tenta retratar desde os primeiros anos até dar uma pitada na atualidade. Contudo, o grande enfoque acaba ficando em torno dessa gigantesca trajetória e dos anos de auge do sucesso. Bandas como Fresno, NxZero, Glória e mais tem representantes dentro do documentário, por exemplo. Com isso em mente, Igor conseguiu trazer bastante de todos os elementos principais desse período.
O diretor, apesar de já ter tido a ideia, começou a realizar como um projeto de TCC. Ele acabou fazendo tudo, então, de maneira bastante particular e pessoal, sem contar com maiores apoios de patrocínios ou produtoras. Segundo ele, toda a produção pensada foi “autoral e independente”.
“Em nenhum momento pensei em pedir patrocínio ou ajuda de produtora, equipe e afins. Lógico, graças ao network é que consegui os equipamentos necessários para a produção, porém desde a concepção até a finalização foi um trabalho pensado no DIY (faça você mesmo)”, conta.
Dentro do documentário, um momento específico tem causado uma certa polêmica. Não apenas para fora do filme, todavia também dentro dele. É o fato do surgimento, logo após o grande boom do emo, das bandas chamadas de ‘coloridas’. Nesse período, grupos como Cine, Restart e mais surgiram. É um período de muitas críticas por parte daqueles na qual começaram tudo.
“Como o próprio Mi (Glória) menciona no filme, tudo aqui no Brasil é muito moda. O preconceito é inerente e real demais, sobretudo em relação ao diferente. Da mesma forma que o emo chegou aqui e foi deturpado, os coloridos também foram”, comenta Igor. “Atríbuem a queda da cena pela ascensão das bandas que surgiam com visual revolucionário – até então – num extremo de cores e estilos, até mais do que o emo em si, mas lá fora já havia bandas nessa mesma onda e que não eram consideradas emo (vide Metro Station, All Time Low, Boys Like Girls, Cobra Starship, etc). O lance é saber dividir as coisas e entender que tanto os coloridos quanto os emos vêm num caminho só mas que em determinado momento seguem outro viés”.
O documentarista ainda relata que a realização de Nem Tudo Que Acaba Tem Final teve “uma pretensão” dele de apresentar o emocore para uma nova geração. De acordo com o mesmo, o que é ouvido hoje é “mais do mesmo”, então a ideia foi reapresentar esse movimento.
“O que a galera de 15-18 anos escuta hoje é mais do mesmo, o que as rádios e TVs entopem e enfiam goela abaixo. Nada mais justo então do que (re)apresentar algo diferente. Li comentários de gente nessa faixa etária que me deixaram bem feliz, chegando até a lamentar por não terem vivido essa fase que – graças ao documentário – se mostrou bem válida e importante culturalmente pra uma geração”, continua.
Apesar de tudo, esse estilo musical e de vida parece ter se tornado já mais ‘antigo’, visto que quase não é visto na atualidade com bandas de maior sucesso. Apesar disso, no meio independente, ainda é possível ser visto diversas novidades sendo surgidas, com até apadrinhamento dos integrantes de grupos mais antigos. O meio alternativo talvez seja ainda a grande resistência para o gênero.
Igor Néder acredita, de fato, que para a mídia e o grosso da população, o emocore morreu, sim. Contudo, apesar desse ‘final’ no mainstream, ele ainda está presente para muitas pessoas. Nunca houve um “fim definitivo”.
“No auge do movimento houve uma veiculação necessária para mostrar que a coisa era forte, de fato, porém a forma que foi mostrada é que não condizia muito com a realidade essencial do emo. O título do documentário serve bem para entenderem que mesmo que o emo tenha “acabado”, ele não teve um fim definitivo. Quem viveu e foi aquilo de verdade ainda ergue a bandeira do emocore diariamente, mesmo que de modo singelo e particular”, finaliza.
Veja o documentário completo abaixo: