Entrevista com o desenhista Ramón K. Perez, de Jane e Conto de Areia

Ramón K. Perez se transformou em um nome gigantesco na indústria dos quadrinhos. Após um início gigantesco com HQ’s menores e, em suma maioria, mais voltados ao público infantil, ele começou a ganhar força aos poucos nas grandes editoras. Foi assim, que apareceram oportunidades na Marvel, aonde ele realizou desenhos para edições do Capitão América, Homem-Aranha e, mais recentemente, Gavião Arqueiro e Quarteto Fantástico. Essas duas últimas fases, inclusive, muito elogiadas.

Seu destaque não foi unicamente nas quadrinizações de heróis, mas também no universo mais independente. Em 2014, ele realizou Conto de Areia, uma HQ inspirada em um roteiro de Jim Henson, o criados dos Muppets. Mais recentemente, no ano passado, desenhou Jane (em que você pode conferir nossa crítica aqui), uma história baseada no livro clássico Jane Eyre e trazida para os tempos atuais. Ambos os quadrinhos foram publicados esse ano no país pela editora Pipoca e Nanquim.

Para falar um pouco sobre isso, conversamos com Ramón:

Senta Aí – Como sua participação em Jane aconteceu?

Ramón K. Perez – Fui apresentado a Aline Brosh McKenna [escritora da história] logo após terminar Conto de Areia, pelo nosso amigo e editor em comum no TOS, Stephen Christy. Aline tinha seu escritório no lugar que  [Jim] Henson ficava na época e conhecera Stephen durante seu tempo na Archaia e seus negócios com a família Henson. Aline ficou interessada em fazer um romance gráfico e teve a idéia de fazer uma adaptação de Jane Eyre, um livro favorito dela. Eles conversaram com outros artistas, mas nada havia dado tão certo. Apresentações foram feitas depois que Stephen me abordou com a ideia, quando ele organizou uma reunião na próxima vez que eu estava em Los Angeles. E o resto, como eles falam, é história.

SA – Pouco antes de trabalhar nesta história, você fez um trabalho com o Gavião Arqueiro. Como foi ter essa mudança de perspectiva criativa em sua cabeça? Ou isso aconteceu mais naturalmente?

RKP – Não houve uma real mudança desconfortável. Eu costumo trabalhar em livros de gêneros e humores muito diferentes. Colaborar com Jane com Aline foi na verdade uma mudança para um estado mais natural de ser, enquanto trabalhávamos juntos na história – conversando sobre ideias e abordagens. Ao contrário de trabalhar para a Marvel ou DC, onde o artista acaba de entregar um roteiro pronto e tem que segui-lo, aqui eu estava colaborando a partir do zero. Eu estava construindo a narrativa, discutindo estilo, ritmo, etc. É realmente a maneira que eu prefiro trabalhar.

SA – Você trabalhou antes com Conto de Areia, um material feito por Jim Henson, um escritor de TV/Cinema. Agora, você faz Jane com Aline Brosh, outra escritora de TV/Cinema. Como foi fazer isso? Foi muito diferente trabalhar com seus materiais do que com os escritores de histórias em quadrinhos?

RKP – Com Conto de Areia, eu estava fazendo um roteiro que foi escrito há mais de 40 anos e se transformando em um romance gráfico, criando a sensação, aparência, estilo, ritmo – tudo. Semelhante foi ao processo em Jane, onde após discussão sobre o livro em geral, Aline escreveu um roteiro de estilo de filme completo, renunciando a fotos de câmeras e tal, focando em cena e personagens. Era mais uma narrativa fluindo solta do que um colapso completo e apertado. Então, peguei o roteiro e o adaptei a uma graphic novel. Tivemos algumas iterações do livro, com muitas mudanças acontecendo no terceiro ato. Em essência, uma colaboração verdadeira. É a experiência oposta trabalhando em quadrinhos de super-heróis, na maior parte. Quando você recebe um roteiro do autor, com falhas de página e painel, sua única liberdade é a organização dos painéis na página. Eu não estou dizendo que é sempre o caso, mas é definitivamente a norma. Com Jane, me ofereceram a verdadeira liberdade narrativa.

SA – Quais são suas maiores inspirações visuais para criar o universo de Jane?

RKP – Tanto Aline, quanto eu, amamos a década de 1940 e a ilustração de 1950. As obras de Al Parker, Albert Dorne, Norman Rockwell, Robert Fawcett, JC Leyendecker, John Whitcomb, entre muitos outros, bem como trazendo inspirações em quadrinhos como Alex Toth e Stan Drake.

SA – O quadrinho é uma releitura do livro Jane Eyre. Você teve que ler o livro antes? Como foi o seu contato?

RKP – Aline era a diretora desse navio a esse respeito, pois havia lido o romance completo, que é bastante longo. Meu conhecimento veio de suas ideias e minhas visões de adaptações de filmes – como o clássico de 1943, estrelado por Orson Welles, bem como a adaptação de 2011, estrelado por Mia Wasikowska e Michael Fassbender.

SA – Jane tem uma aparência muito diferente no que diz respeito às cores. Como foi o pensamento por trás disso?

RKP – Trabalhei de perto com Irma Kniivila em Jane, discutindo paletas para cenas e o visual geral do livro. É como se um diretor pudesse observar o clima visual de um filme, considerando a iluminação, o ambiente e o humor. Nós também fomos inspirados a um estilo áspero e solto, emulando as afirmações ilustradoras dos anos 50. Ela realmente se superou.

SA – Por fim, o que você prefere? Trabalho de quadrinhos de super-herói ou trabalho independente?

RKP – Independente, com certeza. Enquanto eu gosto do gênero de super-heróis, livros independentes oferecem muito mais no campo das possibilidades – dos tipos de histórias à abordagem visual e a experiência do leitor.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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