Lady Bird e o comodismo com heroínas do coming of age

Um dos principais pilares do filme é a própria tese da diretora Greta Gerwig: amor, na verdade, é atenção. A cena que fica bem exemplificada esse ponto ocorre quando a diretora principal da escola, através da observação ao ler uma redação da carta de aplicação à Universidade a qual Christine está tentando entrar, percebe o amor da menina por Sacramento, que ela mesma, ainda, não reconhece.

Podemos afirmar que o filme é livre de clichês; Ele nos dá personagens e momentos específicos. Um exemplo claro é o treinador de futebol da escola que também se encarrega para dirigir a peça produzida pelos alunos da classe de teatro. A história acontece por dois tipos de percepção: a da mãe de Christine e a da própria adolescente (um embate adolescente x adulto). Marion (mãe) precisa lidar com a ida de Christine (filha), o que culmina em diversos atritos, deixando o telespectador com a sensação de ser uma relação antagonista. —  ‘’Does mom hate me?’’ ‘’You both have such strong personalities.’’ (em tradução: “Minha mãe me odeia?” “Vocês duas tem fortes personalidades.”)

Filmes sobre amadurecimento sempre abordam as dificuldades da transição da adolescência para a vida adulta, ou até, apenas problemas comuns da própria adolescência. Tais como: primeiros namorados, virgindade, homossexualidade, a busca pelo enquadro num circulo social e a busca pela própria identificação pessoal, e Lady Bird não foge disso. Mesmo sendo um filme muito bem recebido pelos críticos, houve um debate fomentado acerca da personagem principal; Christine, que se auto intitulou ‘’Lady Bird’’, uma adolescente de 17 anos que vem de uma simples família norte americana e estuda em um colégio católico, deslumbrada com as crianças do subúrbio, se vê passando pela fase da transição de sair de Sacramento, sua cidade natal — considerado por ela, um lugar tedioso onde nada a inspira.

Um dos pontos principais são as brigas constantes com a própria mãe, uma enfermeira que se desdobra e tenta fazer do melhor para que Christine receba uma boa educação e por consequência, torne-se uma pessoa boa, o que fica bem claro na linha “I want you to be the very best version of yourself that you can be.” (em tradução: “Eu quero que você seja a melhor versão de si mesma que você pode ser.”)

“Mas e se essa for a melhor versão?”

Daí começaram as críticas à personagem principal: ingrata, chata, tediosa, mimada, e entre outras. Isso tudo devido ao nosso costume de meninas extremamente perfeitas que não possuíram a chance de errar; Rory Gilmore, Molly Ringwald em seus papéis de mocinha irremediavelmente apaixonada pelo galã do High School, Jenny em ‘’An Education’’, as quatro mocinhas de ‘’The Sisterhood of the Traveling Pants’’. Em contrapartida, filmes do genêro coming of age (literalmente “amadurecimento”) no qual o personagem principal é um homem, lhe é permitido erros sem o julgamento do telespectador.

Entretanto, grande parte da graça e carisma do filme vem da personagem principal em si, determinada em ser alguém mesmo ainda não se encontrando totalmente, o que perdura até o seu fim.

Em uma das cenas finais do filme podemos ver a redenção e desenvolvimento de personagem Christine, após ter a primeira noite de festa. Agora, como uma universitária, morando longe dos pais em Nova Iorque sente-se sozinha, sem a família extremamente acolhedora que a cercava.

Em um dos ultimos minutos de filme, faz uma ligação, que por alguns é considerada uma cena comovente, na qual, a personagem principal, pede desculpas para a própria mãe. Após, temos Christine dirigindo por Sacramento, agora com a carta de habilitação — um dos subplots do filme, era a constante reprovação no teste de motorista; no momento ela se pega vislumbrada enquanto dirige por Sacramento.

Nas palavras da diretora Greta Gerwig: ‘’I also wanted to make something that was about home, and how home is something you only understand when it’s receding, it’s leaving you.” (em tradução: “Eu também queria fazer algo que fosse sobre casa, e como a nossa casa é algo que a gente só entende quando ela está partindo, deixando você.”)

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