Crítica – Skull: A Máscara de Anhangá

Logo na cena inicial de Skull: A Máscara de Anhangá vemos uma mistura que traz elementos de quadrinhos, ao mesmo tempo que um cinema de ação digno da produção oriental. Parece até que veremos uma obra que vai trabalhar isso como uma forma central para o desenvolvimento da sua narrativa. Na sequência seguinte, tudo ainda é mais solidificado por uma iconografia digna dos primeiros volumes de Hellboy, em uma mistura clara do horror com a mitologia de um lugar no interior do Brasil – o idioma falado por esses “homens dominadores” dá uma intenção ainda maior para isso. Contudo, essa questão cai por terra uma trama que parece estar mais interessada em falar o político e social em vez de se assumir como um filme mais bobo.

O longa conta a história da máscara que dá nome ao título. Ela é misteriosa e, após décadas desaparecida, retorna para entrar em uma coleção de um museu de São Paulo. Entretanto, no meio do caminho, a máscara parece ganhar vida própria e matar algumas pessoas que tentam ficar com ela. Isso tudo se relaciona a história da policial Beatriz (Natallia Rodrigues), acusada de ter participado no desaparecimento de crianças na cidade.

É até curioso como os diretores Armando Fonseca e Kapel Furman dão um primeiro elemento político que perpassa a ideia da máscara. Toda a conexão meio religiosa e meio espiritual de um local dentro do Brasil, gera uma sensação interessante do desenvolvimento de uma mitologia própria. Porém, isso acaba acontecendo apenas em um caráter superficial disso, visto que a narrativa começa a enveredar para um desenvolvimento dramático apesar da policial protragonista. É quase como se estivéssemos vendo Macabro, de Marcos Padro, novamente. A obra parece realmente não entender muito bem a que ponto quer chegar com tudo isso, deixando pouco espaço para os momentos que realmente desenvolve bem: o lado gore.

O horror adentra como um elemento quase fundamental dentro dos primeiros 40 minutos, perdendo espaço para cenas momentâneas em seguida. Skull: A Máscara de Anhangá é um filme que sabe bem entender como realizar uma boa sequência de horror, que traz elementos de ação. Dois destaques mais claros estão na Igreja e na balada. São duas cenas que parecem bobas por si só, mas revelam dois elementos fundamentais da discussão da história: a questão da fé (especialmente em um país totalmente cristão, mas com uma proliferação de crenças dos povos nativos) e do domínio do terror no mundo contemporâneo. É como se a ideia propriamente dos assassinatos estivesse mais conectada com uma realidade quase clássica de país.

Apesar disso, é estranho como esse debate colocado dentro de sangue esparramado fique sendo bem pincelado pelos diretores durante boa parte da narrativa. Uma peça importante de ser desenvolvida e desempenhada, mas que fica sempre de lado para colocar uma questão social em que está sempre mal resolvida. Em determinado momento, o público pensa como pouco importa a dualidade da personagem principal, já que o mais interessante que a trama quer trabalhar estava no lado mais básico, mais primordial, mais animalesco do ser humano – do ser brasileiro, no caso.

Ao fim, Armando Fonseca e Kapel Furman ficam extremamente confusos sobre o que querem idealizar em Skull: A Máscara de AnhangáSe o filme abre bastante cartunesco e meio bobo nesse seu desenvolvimento de universo, chega a ser bizarro como isso se transforma em um mero ponto numa narrativa que não sabe bem aonde quer chegar. Enquanto no início há toda uma conurbação com essa fé e santidade histórica brasileira – rememorando até os momento iniciais de O Exorcista -, tudo é jogado por água abaixo para dentrar em uma busca política do Brasil no século XXI. Talvez, o que valeria entender é que menos é mais.

Esse texto faz parte da nossa cobertura da 24ª Mostra Tiradentes.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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