Mineral faz show íntimo para gerações diversas e promete volta em primeira visita ao Rio de Janeiro

A banda texana Mineral é uma veterana. Apesar de terem passado por um hiato logo depois de lançarem sua obra de maior destaque em 1998, os membros da banda nunca saíram da onde são considerados pioneiros até hoje. A prova disso foi dada nessa última sexta (26/08), no Kubrick Bar.

Sua relevância nos dias de hoje se tornou claro bem no início do set, onde um público deveras pequeno mas extremamente dedicado e – diga-se de passagem – diverso, não perdeu a agitação nem nos instrumentais mais melancólicos. Apesar da banda não ser o tipo na qual a crítica normalmente chama de “formadora de hits”, o setlist foi uma mistura coesa de seus maiores sucessos, que também teve a participação dos seus novos singles em comemoração anos 25 anos da banda, “Aurora” e “Your Body Is The World”.

Foto: Gustavo Chagas

A noite começou com o começo de tudo para a trajetória deles. A música de abertura do álbum de estreia The Power of Failing, “Five. Eight and Ten”, seguidas de “Gloria” e “Slower”. A plateia, em constante energia, não deixou de participar da agitação mesmo com uma introdução deveras calma.

O show ainda teve direito a um encore, finalizando com a querida “Parking Lot”, promovendo uma agitação intensa da plateia com direito até a uma corrente de pessoas pulando em sincronia. Com uma escolha sucinta de músicas, mesmo assim os fãs ficaram sem clássicos como “Dolorosa”, na qual foi pedido diretamente da plateia, mas o guitarrista Scott McCarver admitiu que não tinham ensaiado para tal momento. A tour de aniversário, que percorreu também por São Paulo e Curitiba, teve o mesmo setlist.

Parte do estilo da banda, na qual é, indiscutivelmente, um dos pioneiros do tão polêmico “emocore”, momentos de tensão, riffs lentos e cautelosos e vozes melancólicas são quase sempre presentes antes de um breakdown mais feroz onde a guitarra e os lamentos na voz de Chris são intrínsecos. Isso é importante de se combinar com o poder das composições de Jeremy Gomez, baixista e cabeça da banda, tendo escrito todas suas letras. O som da bateria diversificado e sempre marcado de um jeito indignado e os solos raivosos contrastantes de ritmos marcados por notas de reverb fazem a cozinha funcionar de um jeito atemporal.

Chris Simpson (guitarra/vocais) e Jeremy Gomez (baixo/vocais)

É mais do que compreensível que, até hoje classificado em um termo deveras controverso, intitular o Mineral como único ainda é mais do que pertinente. Em um senso independente (o que hoje referimos muitas vezes como indie), a banda sempre demonstrou suas raízes no que rolava de mais atual na época como o post-rock e o alternativo e o que rondava de mais cultural no Texas, como o country e o folk. Sendo nomeados os “pais” de um movimento que até hoje tem suas fagulhas mas que marca sua presença mais do que nunca, a banda “não vive de rotulismos e sim de sincretismos”. Isso é o baterista Gabriel Willey, contou a gente.

Tivemos a chance de bater um papo casual com a banda, na qual, logo após a apresentação, não teve o menor problema de hospitalizar os fãs mais árduos. Com direito a autógrafo em vinil e fotos variadas, tirei um tempo da banda pra trocar umas ideias e opiniões sobre a cena do emo atual, o rock dos anos 2000 e suas influências desconhecidas. Gabriel Willey (bateria) e Chris Simpson (guitarra/vocais) foram super hospitalares com qualquer um que queira trocar um papo benevolente.

De acordo com Chris, seu interesse quanto adolescente e após a formação da banda sempre foi o country, na qual ele cresceu com muito contato e bandas da cena local texana da época. Como maior inspiração fora do que normalmente dizem, Chris gosta muito os pioneiros do shoegaze, a banda irlandesa My Bloody Valentine.

Gabriel foi o mais acolhedor após o show. Perguntado sobre a questão do gênero em si, e o mesmo logo respondeu que “não entendeu na época o que era ser uma banda de emo, e pensava que tinha a ver com um clube na qual a banda sempre tocava que tinha o mesmo nome.” Ele também afirmou: “nada contra o termo, mas ficou meio confuso com as comparações na época assim como seus outros amigos (como o The Promise Ring), visto que tudo que eles (bandas da mesma época) sempre se intitularam foi como uma porra de uma banda de rock e ponto“.

Questionado sobre o que ele sente sobre as bandas na qual ele ajudou a influenciar, The Hotelier é definitivamente sua preferida. Sobre inspirações gerais, Gabriel afirmou que a banda toda sempre ouvia muitas coisas em comum, principalmente quando se tratava da cena independente do Texas na época, mas que mesmo assim tinham gostos distintos; Ele por si só sempre foi o mais metaleiro do grupo, tendo como maior inspiração a banda de thrash metal Slayer.

À esquerda: Jeremy Gomez (baixo/vocais), Gabriel Willey (bateria) e Chris Simpson (guitarra/vocais) no meio. Agradecimentos ao pessoal do Canal Riff.

Infelizmente Scott McCarver (guitarrista) logo entrou para o camarim, então não tivemos uma chance com ele. Jeremy Gomez (baixista/vocais) chegou bem no final da conversa, mas nos deu um adeus e uma promessa de volta ao Brasil. O que tudo indica é que pode vir um novo álbum logo e, por isso, esperamos que esse tempo não seja longo quanto o primeiro. Definitivamente, deixaram marcas e um legado em terras nacionais para serem rememorados sempre.

Não só o Mineral, mas que tal outros grandes nomes? O Brasil já deixou claro (principalmente com suas bandas mais recentes) que sempre teve seu coração junto ao emo. Vamos aprender a querer, produtoras?

Comentários

Clarissa Ferreira

Carioca, estudante de jornalismo e aspirante a diretora. Montadora de playlists profissional, puxa saco de mulheres na arte em geral e ativista em prol do cinema em tempo integral. Nas horas vagas, escrevo sobre filmes como forma não só de entender mais esse mundo mas buscar com que outros entendam e amem também. Vocês podem me achar pelo Twitter e pelo Letterboxd como: @clariexplains.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *