MITA no Rio: dia 1
O sol forte desde cedo, contrastando com a chuva que fez no mesmo período de 2022, mostrou que o MITA desse ano mostrava ser diferente. Aliás, a chegada, extremamente organizada, já dava tons de um festival que parecia ter amadurecido em sua segunda edição. Combinando, é claro, com um setlist cheio de grandes nomes, tudo demonstrava que teríamos uma grande tarde/noite no Jockey Club Brasileiro, no Rio de Janeiro.
De fato, foi o que aconteceu. Com shows memoráveis, foi um ótimo primeiro dia. O Senta Aí esteve presente em boa parte dos shows e conta tudo o que viu aqui, para você:
– Jehnny Beth
Definitivamente, um show aleatório para o público presente. Jehnny Beth, vocalista da banda de rock feminina Savages (em hiato desde 2017), parece uma grande frontman vinda diretamente dos anos 90. Desde o visual, que remete bem ao seu estilo do post-punk, até mesmo na musicalidade, com traços de eletrônico, punk, rock industrial e até pop punk.
Esse grande mix de gêneros, como disse, pode ter doado aleatório para um público que, em grande maioria, buscava um melhor lugar para ver Lana Del Rey. A apresentação começou enérgica por parte da artista, correndo de um lado para o outro do palco, só que morna com a audiência. A grande maioria conversava, mexia no celular, ou até mesmo estava deitado, quase desinteressado.
Porém, Jehnny Beth soube cativar esse mesmo público. Em um show que começou mais roqueiro e terminou cada vez mais uma rave gótica, quem estava presente foi ficando mais engajado. Não à toa, a artista percebeu isso e desceu algumas vezes perto daqueles na pista premium, chegando até mesmo a se tacar.
Talvez o momento que mais exemplifique essa questão da audiência seja quando ela anunciou o cover de “Closer”, do Nine Inch Nails. Disse antes de começar a cantar “talvez vocês conheçam”. Era possível contar nos dedos quantos realmente conheciam.
É difícil tentar mensurar se Beth ganharia mais importância e destaque no segundo dia, com mais grupos que envolvem rock. Contudo, no conceito do MITA de misturar gêneros, foi uma coisa realmente curiosa de se acompanhar. Definitivamente, a cantora sabe cativar mesmo quem nem entenda direito o que está ouvindo. E isso já é incrível para um grande festival.
– Badbadnotgood e Arthur Verocai
Um dos encontros mais aguardados do ano para os fãs de música. Era a junção da banda canadense de jazz com elementos de hip-hop e o músico brasileiro, mistura bossa nova, jazz, soul, samba e muito mais.
A apresentação começou apenas com os canadenses. Assim como na anterior, era interessante notar um público parecendo estar vendo algo inteiramente novo, só que aqui ainda mais. Muitos meio deslumbrados e chocados com a versatilidade de uma apresentação apenas instrumental em um grande festival nacional. Tudo ainda ganhou mais escopo na entrada de Verocai, logo na terceira canção, que regeu uma orquestra.
Uma parceira de Arthur ainda cantou duas de suas músicas, que embalaram alguns presentes que pareceriam saber. No caso, “Pelas Sombras” e “Na Boca do Sol”.
Um aspecto interessante da perfomance foi o lado imagético dos telões. Como o próprio baterista e frontman do grupo, Alexander Sowinski, chegou a falar, o objetivo era fazer do Mita uma experiência “audiovisual”.
Ao fim, parece que ficou um certo gosto de que poderia ter sido mais. A técnica esteve presente, mas, com um público morno e uma apresentação mais autocentrada que qualquer coisa, tudo finalizou menos empolgante do que poderia.
– Jorge Ben Jor
Um dos maiores nomes nacionais do dia, Jorge Ben entrou no palco Deezer com quase 10 minutos de atraso. Contudo, em um show extremamente orgânico, no qual o palco era central para se comunicar com a audiência, acabou sofrendo com algumas questões técnicas.
O público parecia empolgado e cantou muitos dos medleys que o artista adora fazer, trazendo algumas músicas populares, como “Do Leme ao Pontal”, junto de suas próprias canções. É quase uma ode a brasilidade musical, de um jeito que apenas o artista sabe fazer. Menos papo, mais ação, e perfomance de palco.
Entretanto, é impossível não falar de como Jorge Ben teve o show prejudicado. Inicialmente, o som do palco apresentou alguns problemas, chegando a ser cortado por poucos segundos durante duas vezes. Além disso, a imagem do telão sofria problemas frequentes nos primeiros 20 minutos.
Quando tudo parecia resolvido, o final foi uma grande confusão. Ben iria começar a cantar “Ponta de Lança Africano” e começou a fazer um discurso. O problema é que o som foi totalmente cortado por, segundo a produção, ter passado do tempo limite. O produtor de Jorge Ben Jor teria sido avisado, mas o que se apresenta é que ele não fazia a menor ideia. Além disso, as imagens de Lume, que iniciava sua performance no outro palco, já apareceriam até mesmo no telão do Deezer.
Independente da confusão, o cantor sabe fazer um show de muito impacto. Era impossível não ver alguém inteiramente conectado com a forma que Ben brincava com as canções dele é de outros. Em uma grande celebração, até mesmo aqueles que pareciam mais perdidos foram colocados para dançar.
– Planet Hemp
A banda de rock/rap comandada por Marcelo D2 e BNegão definitivamente sabem fazer shows. Não a toa, transformaram os gêneros em que sempre mais gostaram de atuar. Contudo, a apresentação do Planet Hemp, apesar de divertida, parece um pouco marcada, já um tanto quanto óbvia do que será visto.
Ou seja, dessa forma, tivemos os momentos mais políticos, presentes inclusives nas próprias faixas (toda a defesa da legalização da maconha é um ponto relevante desde sempre para o Hemp), as guitarras distorcidas e a interação frequente da dupla principal. Apesar de esperada, é sempre interessante de se assistir. Especialmente o último ponto, a conexão entre os dois gera os momentoss mais entretidos entre a platéia e os integrantes no palco. De fato, isso parece ter animado boa parte dos presentes que estava ali para vê-los.
– Lana Del Rey
Por fim, a grande atração do dia e também com os olhos da música pop voltados para o Brasil. Isso porque, a cantora, que sempre misturou muito bem o indie e o pop mais famoso, retornava para uma apresentação depois de quatro anos (!). Nesse meio tempo, o que não faltaram foram músicas novas, já que Lana Del Rey lançou três álbuns nesse período: Chemtrails Over The Country Club, Blue Banisters e Did you know that ther’s a tunnel under Ocean Blvd. Ou seja, o setlist era muito aguardo.
Com um atraso de quase 20 minutos, ela entrou no palco com “A&W” e “Young and Beautiful”. Com uma peruca loira, Lana tentou construir uma performance logo no início, mas tudo pareceu um tanto quanto enfadonho. Assim, em menos de 10 minutos de show, a cantora ficou quase outros 10 trocando o vestido e, em sequência, apresentando “Bartender” com alguns problema de som, pela dificuldade que tinha em mexer no cabelo e segurar o microfone ao mesmo tempo. Ao menos, ela provou que não precisa de playback.
Definitivamente, a apresentação demorou a engrenar de verdade. Desde o início da carreira focada muito em shows com uma banda e ela no palco, a artista buscou elementos mais cenográficos na tour atual. Era algo que poderia soar bem construído, mas foi se transformando em cansativo e gerando até mesmo comentários negativos dos próprios fãs. Quando cantou “Ride” e os sucessos “Born to Die” e “Blue Jeans” é que verdadeiramente parecíamos estar vendo Lana Del Rey ao vivo no MITA 2023.
Com o melhor som da noite em termos técnicos, parte do público parecia não acompanhar tanto o ritmo da artista. Não a toa, o atraso e a apresentação mais lenta, fez com que a produção do prório festival pedisse o encerramento da apresentação quando chegou às 22h. A artista não ligou e falou que iria cantar mais duas faixas. No caso, “Did you know that ther’s a tunnel under Ocean Blvd” e “Video Games”. Admito, pessoalmente, que tinha muitas expectativas para assistir Lana ao vivo. No entanto, em um show cansativo, o que restou foi ao menos ter sido um dos primeiros a ver seu retorno aos palcos pós-pandemia.