O fim da inocência: como as crianças dominaram o horror

O crescimento e o amadurecimento são temas quase inerentes à qualquer obra de ficção.

Embora isso seja um tema possível de abordar em qualquer protagonista, quanto mais jovem ele é mais claro isso pode ficar na narrativa ou em seu tom. Portanto, não é surpresa que as crianças e os adolescentes estejam no foco das obras que trabalham o processo de crescer de maneira mais segura, coesa e marcante. E, embora isso também seja um “gênero” por si só através do coming of age, ele também se mostra muito presente no drama, na comédia, romance, aventura e horror.

Nos anos 80, foi possível perceber uma onda de filmes onde a história se centrava em um grupo de crianças, pré-adolescentes e suas aventuras. Em uma década onde o perigo não era compatível com a liberdade de quem vivia nele, grupos de cinco ou mais desbravavam os segredos escondidos além das cercas brancas e gramados verdes, escondendo alienígenas, enfrentando vizinhos sugadores de sangue, lobisomens e outros tipo de ameaças cabulosas. Um dos melhores exemplos do gênero que gosto de chamar “criançada tocando o terror enquanto papai e mamãe não vê” é Os Goonies. Dirigido por Richard Donner, com grande renome graças ao sucesso de Superman, com produção e história original de ninguém menos que Steven Spielberg, o longa acompanhava um grupo de amigos que tenta salvar seu bairro buscando um tesouro secreto. Com uma trama simples e quase pueril, o filme pode não ter sido o maior dos sucessos na época de seu lançamento, mas marcou gerações em videolocadoras e exibições televisivas vespertinas.

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A lista de filmes que segue essa fórmula continua: Conte Comigo, Deu a Louca nos Monstros, O Extraterrestre, Se Brincar o Bicho Morde, Os Garotos Perdidos… Uma tendência que voltou a ocupar as telas com Stranger Things em 2016. Os famosos e tão amados “filmes de turminha” (agora, séries também) voltaram. Mas o que faz essa fórmula ser tão atraente e (quase sempre) efetiva?

Uma das primeiras razões pode ser a nostalgia, cultural ou pessoal. A memória de viver aventuras, grandes ou pequenas, junto de seus amigos durante uma época tão especial e mágica quanto a infância é algo que dificilmente é esquecido. Pode ficar guardado, até abandonado, mas está sempre lá disponível para que possa aparecer de novo e são filmes como esse que trazem isso à tona. Não só a experiência própria de viver essas aventuras, mas também a de assisti-las. Toda a mitologia e a magia criada ao redor dessas obras e dessas turmas também deixa sua marca na personalidade e na vida de quem as assiste, deixando claro todo o apelo emocional que há por trás desse tipo de nostalgia.

Tendo isso em consideração, não é difícil perceber porque o efeito gerado por Stranger Things deu tão certo. Quando esse lado é colocado na perspectiva do horror, todos os efeitos são aumentados. A tensão e o perigo são maiores. Em It: A Coisa, isso é refletido perfeitamente. Bill, Beverly, Ben, Stan, Mike, Richie e Eddie enfrentam não só um palhaço assassino, mas também as pequenas histórias assustadoras da vida real: a violência, o bullying, famílias emocionalmente distantes ou que te machucam.

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Após o boom de Stranger, não é surpresa que o carisma do Clube dos Otários de It tenha rendido quase 700 milhões de dólares de bilheteria. Somado ao poder quase elétrico do nome de Stephen King e à força da história original de Pennywise e Derry, A Coisa mostra como ter talentos mais jovens no centro da história pode enriquecer ainda mais uma narrativa.

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Outros títulos que parecem vir nessa mesma onda são o remake de Brinquedo Assassino, Histórias Assustadoras para contar no escuro e as adaptações das obras de R. L. Stine, o Stephen King das crianças mais jovens ainda.

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