O jeito de fazer música de Ariana Grande

Quando surgiu em um seriado da Nickelodeon, ninguém imaginaria que Ariana Grande se tornaria a grande artista que é hoje. É possível dizer que, junto com o cancelamento de iCarly e as exaustivas sessões de tingimento de vermelho sofridos pelas madeixas de Ariana, subjulgar o talento da menina foi um dos maiores erros do canal.

Dividindo holofotes com Victoria Justice (eu também não lembro quem é) e Elizabeth Gillies (atualmente estrelando “Dynasty” na CW), Grande acabava não obtendo o maior destaque na divisão das músicas do Brilhante Victoria e sua personagem era, muitas vezes, secundária nas tramas do programa. Ainda assim, quando cantava, era um sucesso. Poderia ter passado despercebida. Não que ela não fosse talentosa ou algo do gênero, mas seu potencial era maior do que era mostrado. A questão é que ninguém, nem mesmo a Nick, sabia que ali estava uma artista que iria se tornar inesquecível.

Tanto que é que a primeira tentativa de Ariana Grande para emplacar um hit foi falha. Procurando seguir a estética da sua personagem no programa, a ainda ruiva lançava Put Your Hearts Up, um pop infantil que era o estereótipo de músicas feitas pela Disney e pela Nick tentando emplacar alguma coisa que tivesse um sucesso comercial parecido com High School Musical. Mas, rapidamente, perceberam que esse não era o caminho de Ariana. Com uma série de covers que lançava por conta própria, a garota conseguiu ganhar um público e chamar atenção de gravadoras e lançar seu primeiro álbum Yours Truly.

O álbum foi muito bem recebido pela crítica, principalmente ao perceberem as referências que ela tinha do R&B dos anos 90. A própria  cantora admitiu que as músicas eram uma junção de tudo o que ela cresceu ouvindo com algo único. Definitivamente era algo diferente do que estava acontecendo na época e isso lhe rendeu o primeiro hit – The Way, com o futuro namorado Mac Miller. Mas se pararmos para pensar, um rapper numa música R&B de uma cantora com agudos característicos era algo que já conhecíamos. As comparações com Mariah Carey foram inevitáveis. É claro que Ariana, tendo o carisma que tem, aceitou as comparações de bom grado e a citou (numa lista que continua Christina Aguilera, Amy Winehouse e Whitney Houston) como uma das suas maiores influências.

Precisando escapar do apelido de mini Mariah, Ariana lança o My Everything, que acabou sendo indicado ao Grammy. Ele ainda possuía a mesma sonoridade R&B, algo que a cantora ama fazer, e as colaborações de produção e com outros cantores foram essenciais para a direção pop que o álbum estava indo. O primeiro acerto foi lançar Problem, a colaboração com Iggy Azalea. O single foi um sucesso, quebrando diversos recordes e resultando em apresentações nas mais variadas premiações. No entanto, parecendo que estava se encontrando musicalmente, ainda faltava algo natural em suas apresentações. Todo mundo conhece aquele gif da Rihanna rindo no meio de uma performance de Ari. Mas isso não a impediu de lançar hit atrás de hit. Logo após Problem, Break Free é lançado e é um sucesso absurdo. Feito para dançar, ele foi sucesso imediato e isso, junto da sua participação genial em Scream Queens, a fez ganhar um notório apoio da comunidade LGBT em sua fanbase.

Um momento parar apreciar o vídeo do garoto dançando Break Free em cima de um ônibus no carnaval.

Obrigado.

A força dessa era de Ariana eram as colaborações. Iggy (Problem), Zedd (Break Free), The Weeknd (Love Me Harder) e, principalmente, em Bang Bang, com Jessie J e Nicki Minaj. Essa colaboração rendeu uma parceria de muito sucesso na carreira de Grande, que é a da rapper Nicki. A união já resultou em diversas músicas excelentes. E, assim foi finalizada a bem-sucedida era My Everything com o emocionante single One Last Time.

Estabelecendo um amadurecimento, Grande lançou seu segundo disco indicado ao Grammy, Dangerous Woman. Acredito que é o ponto de virada no controle de sua carreira, já que a sensualidade apresentada já não era mais um elemento forçado. Confiante que seu melhor ritmo é sim o R&B, ela se entrega a usar elementos do pop e explorar outros ritmos, como o reggae (O hino Side by Side com Nicki).

E se o ponto de virada musical acontece nesse álbum, o da vida pública é na turnê dele. Em Manchester, na Inglaterra, durante uma apresentação de sua turnê, um homem bomba matou 22 pessoas e deixou 60 feridos. Extremamente triste, o atentado muda a forma como a garota se porta e segue com a carreira a partir daí. Sendo a mais respeitosa possível, ela faz sua parte. Planejando um evento com diversos artistas para arrecadar dinheiro e doar para as famílias que sofreram com o ataque. Ela conseguiu reunir várias personalidades importantes da música para ajudar essas pessoas. Foi devastador.

E foi nesse clima que, alguns meses depois de terminar a turnê do Dangerous Woman, ela anuncia o primeiro single do seu novo álbum: No Tears Left To Cry. Respeitosamente, ela não transformou a tragédia em um motivador para seu novo álbum e nem tentou usá-la como divulgação. O single dizia isso, ela não tinha mais lágrimas para chorar. Junto à delicada homenagem no clipe (a borboleta no final), a música Get Well Soon do Sweetener, o novo álbum, tinha um momento de silêncio, fazendo a música terminar no minuto 5:22. Lendo de outra forma, 22 de maio, o dia do atentado.

E se o álbum anterior mostrava o caminho do amadurecimento, Sweetener mostra que esse processo já terminou. Era o que ela precisava e queria fazer. Com as letras muito confessionais, em Sweetener ela estava mais R&B do que nunca. Parecia estar na sua zona de conforto, mas não de uma forma preguiçosa, mas muito proveitosa e cheia de vontade de falar o que ela estava sentindo. Aqui, não há mais espaço para comparações com Mariah Carey. Já não existe mais uma “mini Mariah”, mas uma cantora que já construiu um nome e legado próprios.

Então, poucos meses depois de terminar o relacionamento com ele, Mac Miller morre. Ariana, que já estava noiva de Pete Davidson (a quem dedicou uma interlude no álbum), se encontrava novamente em uma posição difícil. Parando qualquer divulgação do Sweetener, ela se mostra frágil. E fica ainda mais, pois termina o noivado com Pete.

Ela poderia parar de vez, seguir, sem a força e vontade de antes, com a divulgação do Sweetener ou só fingir que nada estava acontecendo, como manda as regras indústria. Mas é aí que percebemos que Ariana é uma artista que ama o que faz. Ela canalizada toda essa emoção de tudo que vem acontecendo com ela e faz arte. Ela, sem ligar para qualquer regra que a indústria tem, anuncia que estava preparando um novo álbum e, de cara, lança um single desse álbum. Thank You, Next é uma faixa em que ela agradece aos homens com quem se envolveu previamente e admite estar numa relação melhor com outra pessoa: ela mesma.

Se Ariana vai parar por aí ou adiar esse álbum para um futuro próximo, só o futuro dirá. Mas vou estar acompanhando de perto todos os passos dela, pois Ariana tem algo muito cativante sobre a maneira com que ela trabalha. Diferente do que está acontecendo musicalmente, sem seguir padrões do momento, ela conta com uma personalidade e originalidade ímpares em sua carreira. Estarei vestindo um casacão, usando um rabo de cavalo, com orelhas de gato e falando alguns “yuh” e “baby” enquanto espero o que vem a seguir.

Também tô com muito medo, vai que logo depois que esse texto sai, ela já lançou mais 2 outros singles e eu não pude comentar?

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