O retorno de Playmobil para a cultura pop?

(Texto originalmente escrito durante a cobertura do Anima Mundi 2019)

“Eu lembro de ter brincado com aquele robozinho”. “Ah, pelo que eu me lembro, só tinha o dinossauro”. “Eu adoro as mãos deles serem desse jeito desde que eu era criança”. As falas dos mais diversos adultos logo após a exibição de Playmobil – O Filme mostra um pouco da tônica esperada. A nostalgia acaba sendo um fator importante durante a sessão, porém, impressionantemente, não o principal do longa. Mas é, sem dúvidas, seu grande chamariz.

Nesse quesito, é impossível destacar um efeito meio diferencial dele perante, especialmente, seu maior concorrente, Uma Aventura LEGO. Se, nesse outro, o universo apresentado acaba bastante centrado em uma localização de espaço bem clara, aqui o objetivo é a sensação da brincadeira. Isso transforma a narrativa em uma série de aleatoriedades, porém em um sentido claro dentro da trama. Por exemplo, os personagens passam de uma batalha viking para uma rodovia com carros e até no Império Romano. Pode soar estranho, contudo, a ideia é levar uma imensa brincadeira de criança, sem muito um sentido de continuidade.  E, para dar base a isso, a história de dois irmãos acontece.

Tudo é iniciado com o sonho de Marla (Anya Taylor-Joy) de sair da sua vida cotidiana e viajar, conhecer o mundo. Certo dia, ela e seu irmão, Charlie (Gabriel Bateman), são surpreendidos com o falecimento dos pais. A relação dos dois – até então bem próxima – começa a ter conflitos constantes. Em uma tentativa de fugir disso, ele acaba parando em uma exposição do brinquedo na qual sempre brincava com a irmã, o Playmobil. Quando ela aparece para tirá-lo dali eles são levados para dentro desse microuniverso dos brinquedos.

Talvez o ponto principal de tudo seja sua confusão nos gêneros, algo bastante interessante dentro da produção. O diretor estreante Lino DiSalvo coloca elementos de cada um para gerar os efeitos mais variados, mas sempre com o pano de fundo dramático estabelecido inicialmente – esse drama é o causador principal da mensagem colocado ao fim. Nisso, será possível ver desde comédia, musical e até espionagem. Esse quesito é o gerador de uma marca bem própria do filme, buscando essa conexão com ambas as idades. Ao mesmo tempo, é também o diferencial de diversão para a trama.

Há um lado nostálgico forte no quesito lembrança para os fãs de cinema. Apesar de nenhuma referência direta ser apresentada, existe uma memória onipresente de longas dos anos 90 e 2000, como Jumanji, Zathura: Uma Aventura Espacial e Esqueceram de Mim. E isso por dois caminhos. Seja nesse lado da narrativa difusa ou uma conexão meio confusa dos acontecimentos. Nada parece estar indo em uma mesma frequência e acontecendo de verdade, apenas paralelamente ao nosso mundo cotidiano.

Esses fatores podem ter sido facilmente atrativos para o elenco de voz, com alguns nomes de peso. Além dos já citados Gabriel Bateman, na qual será protagonista do remake de O Brinquedo Assassino, e Anya Taylor-Joy, de A Bruxa e Vidro, Daniel Radcliffe, o vocalista do Queen, Adam Lambert, Kenan Thompson, da série Kenan e Kel, a cantora Meghan Trainor, entre outros, participam. Impossível não esquecer também de Kirk Thornton, Dino Andrade, Kellen Goff, Ian James Corlett, conhecidos pelo trabalho de voz em outras animações. O elenco é, definitivamente, um dos pontos altos para sustenção de Playmobil.

Brinquedos clássicos do Playmobil.

Não dá para falar da equipe sem lembrar a participação do brasileiro Heitor Pereira como compositor da trilha. Ele, na qual também estará nos cinemas nesse ano compondo para Angry Birds 2, realiza um trabalho mais sutil, sem ter um verdadeiro destaque. De fato, o que acaba mais sendo destacado durante a obra são as músicas originais criadas. Quem sabe, existe já a possibilidade de uma lembrança no próximo Oscar em uma das canções cantadas.

Pelo fato de ser uma produção baseada em uma franquia de brinquedos, era possível esperar um certo nível de envolvimento na movimentação dos personagens para relembrar os trejeitos. Mas, isso acaba sendo deixado um pouco de lado, podendo causar certo desapontamento nos fãs. Ocorre até uma certa citação a isso logo quando os protagonistas chegam ao mundo dos bonecos, todavia é deixado de lado logo depois.

Playmobil – O Filme termina fechando claramente seu ciclo. Há uma cena logo após o início dos créditos, mas ela pode significar tanto uma continuidade da franquia, como apenas uma brincadeira de finalização. Isso só o futuro poderá demonstrar. Apesar dos males e bons citados, e do que estava sendo esperado, a saga LEGO pode ter ganho um adversário de força. E isso só será possível ser afirmado quando o filme chegar para o público. Seja em 30 de agosto, nas terras americanas, e/ou em dezembro, no Brasil

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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