Para Todos os Garotos que Já Amei: O encontro entre o romance teen e o cinema independente
Existe um lado extremamente clichê e genérico presente na grande maioria das comédias românticas adolescentes. A grande questão gira sempre em torno de um “vai e volta” presente em determinado relacionamento – afinal, não há bem como fugir dessa temática -, mas a diferença se encontra na maneira de trabalhar a trama em prol dessa dialética romântica presente. Isso é trabalhado acertadamente em filmes como Dez Coisas que Odeio em Você, O Diário de Uma Princesa e A Mentira. Para Todos os Garotos que Já Amei consegue entrar pela porta da frente nessa passarela, com seu toque do cinema independente que leva a estética como um fator primordial para a narrativa.
Para Todos os Garotos que Já Amei: 4 motivos para ler os livros que deram origem ao filme
Isso é feito de maneira solene pela diretora Susan Johnson (O Mundo de Carrie Pilby), no ponto em que ela cria uma estética única em prol da história. Essa, que mostra a vida da jovem Lara Jean, que escreve cartas de amor secretas para todos os meninos por quem já se apaixonou, porém, certo dia, sua irmã espalha esses escritos para os amantes, colocando a vida da menina de cabeça pra baixo. Apesar da trama simples, visualmente a cineasta consegue colocar um sentimento presente dentro dos movimentos de câmera, principalmente nos cortes que mostram a solidão da protagonista, sempre aparecendo em destaque e sozinha em muitas situações.
Claro que isso não se daria possível sem o apuro harmonioso da fotografia de Michael Fimognari (Jogo Perigoso), que rememora o trabalho de Robert D. Yeoman, colaborador de anos do diretor Wes Anderson. Essa coisa se deve principalmente à palheta de cores quase que fantasiosa, se utilizando muito do amarelo, para transmitir a paixão crescente entre o casal principal, além do azul, com a frieza que certos personagens tratam uns aos outros. Esse olhar visual também perpassa na escolha de sempre desfocar os fundos das cenas, dando espaço suficiente para o brilho dos atores, mesmo que a maioria desses não consigam segurar tão bem os papéis.
O protagonismo de Lara, interpretada por Lana Condor, se torna um quase estudo de personagem em muitas situações. Ela é uma narradora daqueles acontecimentos, sempre deixando o público entendendo suas motivações. Existe também um lado perspicaz na escolha de seu figurino, que sempre – quando em contato com pessoas sem serem familiares – utiliza um casaco, quase como uma forma de proteção interna e medo de buscar o novo. Em apenas um momento durante a trama ela tira esse casaco, quando acaba por se sentir traída na sequência, reiterando o motivo de ela não retirá-lo em momento nenhum.
O grande problema das ações dessa personagem são sua inverossimilhança. Alguns pensamentos como “Por que isso aconteceu tão rápido?”, “Como ela sabia disso?”, “Essas pessoas parecem que não existem”, acabam se tornando presentes quando se questiona um pouco mais de decisões do roteiro, principalmente no relacionamento familiar e a motivação da irmã mais nova, feita por Anna Cathcart, saber a localização da caixa, algo essencial para a narrativa.
Isso também adentra no fato desse universo ser quase irreal, o que, até certo ponto, faz parte do pensamento para esse mundo, algo próximo com o que faz o filme Juno e, mais recentemente, a série Samantha!. Todavia, tem seu lado de empecilho para a continuidade daquela história, que se arrasta bem mais do que poderia e, em certas situações, se torna até enfadonha, principalmente quando tenta repetir acontecimentos que já faziam sentido com o que foi mostrado.
Para Todos os Garotos que Já Amei é um belo filme dentro da sua proposta de romance adolescente. Possui momentos bem divertidos e conseguem levar o telespectador de uma forma até fácil para entender seus eventos. Entretanto, peca no seu fator de credibilidade e na qual poderia gerar interações muito fortes com o público-alvo. Esse fato pode ser até pensado e trabalhado dentro de uma possível sequência, mas, como obra única, o lado marcante se perde dentro de algo mais fofo.
3.5
Resumo
Funcional, mas com pequenos problemas que dificultam ser ainda melhor. Apesar disso, uma peça rara para o subgênero.