Primeiras Impressões – Irmãos Freitas
A história e trajetória vitoriosa do pugilista Popó é reconhecida por boa parte dos brasileiros. Contudo, a vida dele até chegar lá parece nunca ter sido muito disseminada. As complicações durante o início de sua existência, especialmente perante o pai e o irmão, seriam, em algum momento, disseminadas em maior espaço perante o público. Assim (estreando hoje, às 21h, no Space e, a partir das 23h, no Prime Video), Irmãos Freitas começa contando esse trecho da vivência do lutador Acelino Freitas (Daniel Rocha). E por que irmãos? Pelo simples fato de Luis Claudio (Rômulo Braga) ter sido uma disputa frequente envolvendo os ringues.
Ao falar isso, aliás, todo o início do primeiro episódio remete a importância desse como pugilista. O futuro profissional e o sucesso no esporte pareciam estar muito mais sendo trilhados a ele, do que ao maior protagonista dessa trajetória. Em um momento específico isso fica ainda mais claro, quando Popó decide participar de uma luta treino para um olheiro americano. Quem passa as instruções a ele tentar realizar algo? Luis Claudio. A presença constante permeia todo esse capítulo inicial, colocando os dois como – de certa forma – parceiros, todavia sempre tendo desavenças frequentes. Esse é o grande mote para o acontecimento dessa história.
Esses embates são iniciados nesses primeiros 50 minutos pela figura paterna. Enquanto a mãe, Dona Zuleica (Edvana Carvalho), o rejeita por viver sempre bêbado e não ajudando os filhos, Acelino busca sempre uma ajuda ao pai, Babinha (Claudio Jaborandy). O contragosto do irmão é apresentado logo de cara, tentando colocar como aquela figura não era benéfica a casa. Aliás, a sequência de Popó dando banho no pai é talvez um desses poucos períodos de respiro ao personagem, vivendo sempre em uma constante tensão – sem saber muito o porquê. Ali, toda a relação amorosa é colocada de frente, ao mesmo tempo que essa reconhecida figura não esquece da importância de sua mãe, como é mostrado nos primeiros minutos.
Mesmo com toda essa consolidação dramática, é no palco dos ringues aonde o seriado tem a necessidade de render. E não se perde em nada com isso. A direção de Sérgio Machado e Aly Muritiba remete muito a clássicos filmes do gênero de boxe, como Rocky, mas tentando trazer uma abordagem mais “suja”. Enquanto nesse longa a estética é de uma glamourização do esporte, aqui é quase um sofrimento constante. Os socos não chegam a gerar uma tensão perante o público, entretanto eles parecem carregar algo maior, ao menos nesse capítulo inicial. As diversas cenas de treinos em Creed, por exemplo, brincam com uma conotação quase de videoclipe. Já aqui, esses períodos servem mais a uma reflexão desse drama dos personagens, gerando apenas um detalhe.
Apesar disso tudo, há uma certa corrida nesse início. Pode ser uma impressão momentânea, até por ter visto pouco, mesmo assim é um pouco rápido demais chegar com toda a narrativa para a viagem aos Estados Unidos, local na qual Popó ganhou sua fama. Os enfrentamentos dos irmãos, constantes até a primeira meia hora (mesmo recheados de afetos), parecem que irão tomar uma forma mais psicológica daqui para frente. O lado mais físico, em que poderia até ser o caminho mais natural por se tratar de uma série sobre luta, ficou um pouco descompassado nesse episódio primordial. Isso só o futuro poderá responder.
A abertura de Irmãos Freitas parece trilhar um caminho, ao mínimo, intrigante. A maneira na qual os personagens são confrontados dentro desse universo meio esquisito parece tentar desenvolver algo até novo para biografias nacionais sobre esportes. É complicado dizer se realmente dará certo, porém o futuro abre margem para ser promissor. Toda essa trajetória de Popó, aliás, já deveria a muito tempo estar no nosso imaginário coletivo, sendo contada por uma obra audiovisual. Essa parece uma oportunidade única. As portas estão bastante escancaradas, resta apenas que esses oito episódios da primeira temporada componham bem ela.