Resenha – Benzimena

A mente humana é muito mais complexa do que aparenta. Suas relações podem ser simples, causando conexões de memória conhecidas como situações específicas do passado ou até traumas complicados de serem ultrapassados. Entretanto, ela também pode causar questões diversas, como embaralhar ideias e até pensamentos. É dessa forma que funciona a mente de Benny, o protagonista da HQ Benzimena, de Nina Bunjevac. Ele sofre com distúrbios relacionados ao sexo desde criança, tendo ereções em salas de aula ou até se masturbando em lugares onde não deveria. Para tentar controlar esses impulsos – e mascará-los – ele resolve trabalhar dentro de um zoológico. Porém, ao ver uma antiga colega de classe, toda sua ânsia desperta novamente.

Produções artísticas sobre questões de sexo existem aos montes. Henry Miller, clássico escritor de histórias cheias de erotismo, é um possível de provar isso bem. No mundo dos quadrinhos isso não é nada diferente, com, por exemplo, Giovana Casotto e Milo Manara trabalhando essas relações. Obviamente, existem diferenças de como essas representações são tomadas sendo feitas por homens ou mulheres, todavia o caso aqui fica um pouco mais abrangente. E, acima de tudo, ao ponto desse trabalho buscar uma conexão profunda com o que torna essa figura masculina um predador sexual. Seria ele comum? Doente? Até que ponto essas distinções de gênero possuem sentido nesse contexto?

Vemos tudo dentro da história sob o ponto de vista de Benny. Não é um personagem chave para se guiar os acontecimentos, visto suas problemáticas questões desde a idade jovem. Com isso, observamos o personagem em uma espécie de lado voyeur. A autora coloca sempre uma certa distância misturada com uma proximidade psicológica. Isso é tão grande que parecemos nem acompanhar propriamente uma HQ, mas sim uma narrativa com desenhos, espelhados dentro de uma relação profunda sobre sensações humanas. Esse protagonista masculino parece ter uma visão de mundo apenas relacionada a uma perturbação profunda dos atos sexuais.

Por isso a brincadeira, logo inicialmente, de Nina ao colocar o título de Benzimena. Essa era uma sacerdotisa, em que tem o nome significando “aquela que não tem nome”, como uma das diversas mulheres no período medieval, por exemplo. Benzimena, por ser mulher, deve renegar seus prazeres, quaisquer relação profunda com um tato sexual é apenas direcionado a reprodução. Não a toa, na época, as famílias possuíam diversos filhos. O prazer, especialmente relacionado ao gozo durante uma transa, vinha por parte da figura masculina, essa dotada de um domínio frequente socialmente ou até “entre quatro paredes”.

Com isso, a sacerdotisa possui uma conexão espiritual com a figura de Benny, como é mostrado nas páginas iniciais. Esses com desejos profundos e sentimentos pouco explorados. É interessante como Bunjevac traz, nesse instante, quase uma empatia com essa personagem principal, principalmente pela sua falta de controle. Contudo, esse controle é diferente nos diversos momentos de mundo. Ambos estão compostos de um domínio patriarcal, fazendo com que o homem dessa história possa se exercer do controle de corpos femininos, enquanto a mulher é apenas mais uma, sem nome, sem identidade. Em momento algum, ele consegue perceber uma diferenciação de corpos.

As mãos e atitudes de Benny são sempre amedrontadoras para as mulheres. Desde sempre renegado pelas figuras femininas, consequência de suas constantes ereções não tratadas psicologicamente, ele torna-se um ser atormentado. Não há distinções entre sexo e estupro dentro da sua mente. O prazer, mesmo não existindo para as mulheres, é trazido dentro da sua mente como algo realmente presente no mundo. Nina Bunjevac sabe como trabalhar a história de Benzimenas. Essas, desde sempre, colocadas em segundo plano para um domínio masculino. O impulso sexual pode – e é – uma doença a parte, claramente. Entretanto, suas atitudes e ações, especialmente quando adentram o campo do controle corporal, podem estar presentes nas atitudes de qualquer homem.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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