A Poesia nos novos tempos

“O meu objetivo é esse, desmistificar a poesia. Diminuir cada vez mais as barreiras”. A fala do poeta, youtuber e instagramer Allan Dias Castro demonstra novos preceitos para essa arte. Sendo uma composição da literatura, pelo simples uso das palavras, a poesia acabou renegada as grandes elites em boa parte da história da humanidade. Não a toa, seu consumo nunca foi realmente popular – até o surgimento da internet. Ela, possibilitou diversos novos jeitos de realizar poesia de serem fundados. Seja pelo Instagram, Facebook, Slam ou até o Rap, esse estilo, essa arte de brincar a maneira de falar ganhou contornos do povo.

Esse foi um dos temas de intenso destaque durante a XIX Bienal Internacional do Livro. Dentre as diversas na qual são compostas o evento, duas mesas impulsionaram nesse assunto. A primeira delas foi “Caiu na Rede é Poesia”, falando sobre autores de sucesso nas redes sociais. A segunda foi “Poesia Compra Sapato!”, abordando também sobre esse mundo das redes, porém indo para outras perspectivas. Em comum nas duas está a participação de Allan, participante de ambas.

Em um mundo envolto pelas novas mídias digitais, é impossível não haver pensamentos sobre a pressão de publicação. Se sites, perfis, entre muitos outros, cada vez mais tem reclamado do algorítimo de Instagram e Facebook, por exemplo, como ficaria a arte? Como colocar a poesia? Como conseguir postar sempre? Esse é uma problemática mais do que relevante de ser pensada.

“Acho que é necessário ser objetivo, colocando poesias sempre, tipo semanalmente. A internet abriu essa porta para mim e acho que é uma tentativa de manter sempre o público presente”, contou ele na segunda mesa. Ao falar sobre o mesmo tópico na mesa anterior, ele ainda explanou mais. “Acho que a pressão maior acaba sendo não escrever. A questão de ninguém te cobrar é particular, mas a pressão mesmo acaba sendo quase sempre”.

Outro nome de grande renome desse novo momento da poesia é o akapoeta. João Doerdelin, como é seu verdadeiro nome, é um dos mais conhecidos dentre todos de poesia nas redes sociais. Com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, João – autor do recém-lançado O Invisível Aos Olhos – diz também sofrer com essas questões, porém para ele existe até um lado positivo. “Esse lado efêmero da internet é o que marca a escrita nesse período, então isso acaba fazendo a gente precisar psotar sempre porque a plataforma requer isso”, comenta. “Ao mesmo tempo que acho que limita, ele impulsiona muitas coisas e muitas novidades. O slam e a poesia falada, por exemplo, vem disso”.

Única mulher nas duas mesas, Yasmin Gomlevsky tem ganhado mais renome pelo seu trabalho de atriz. Ela, na qual fez recentemente a novela Bom Sucesso, começou a escrever como uma forma de desabafo. Ela ainda contou um pouco sobre um outro lado também impulsionador da nova de onda de poesia: “Eu comecei tudo com um blog de poemas quando era adolescente porque queria colocar tudo para fora. Eu não tenho muito pudor, por isso acabava colocando palavrões e sentimentos mais pesados”, diz ela. “Nos dias de hoje o que acaba interessando é mais o auto conhecimento. Eu escrevi meu livro quando estava mais louca [risadas]. Agora, acabou colocando mais minha verdade e tive que ter uma dose de coragem para isso”.

Como dito anteriormente, o rap talvez tenha sido um dos percursores desse novo período. Sendo iniciado no fim dos anos 80 e ganhando força ao longo dos anos 90, esse gênero musical possuía – a prióri – uma batida constante e suave, ganhando sua força nas letras. Essa expressão, muito caucada na música “Express Yourself” do NWA, não se perdeu, porém ganhou uma companheira: o ritmo e as batidas cada vez mais envolventes.

Um dos expoentes dessa nova fase do rap, especialmente no lado nacional, é Projota. Ele já tem feito sucesso há alguns anos, tendo lançado agora em 2019 Tributo aos Sonhadores I. Para ele, os tempos atuais não são propriamente propícios para esse ressurgimento da poesia, mas tem ocorrido. “Acho que falo com as pessoas que querem ouvir. Assim como ninguém mais consome música através de álbuns, e sim dos singles, os livros de poesia ficam cada vez mais difíceis de serem lidos. A internet abriu essas portas, mas as pessoas continuam difíceis”, finaliza o rapper.

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Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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