Crítica – How To be a Carioca (1ª Temporada)

Talvez o timing não tenha sido muito bom para minha experiência com a série How To Be a Carioca. Enquanto escrevo esse texto, mais de 30 ônibus foram incendiados na Zona Oeste da cidade, retaliação por conta da morte de um miliciano, então meu humor para séries cujo grande mote é “O Rio é lindo” pode estar um pouco baixo.

Não ajuda muito que, para a produção de Carlos Saldanha, as regiões afetadas pela onda de violência não fatoram como cidade do Rio de Janeiro, claro que não. Os personagens dessa antologia de seis episódios, passeiam somente entre Zona Sul e Centro da cidade, com parada obrigatória no Morro do Vidigal para mostrar que pobre, olha só que coisa, também é gente.

Cena da série How to be a Carioca

Eu compreendo, também não quero ir para Campo Grande, Santa Cruz ou Bonsucesso, é longe e não é tão aesthetic quanto os Arcos da Lapa ou o Arpoador. Mas pelo menos não afirmo querer retratar “O Rio que a gente esquece” enquanto produzo um material formado quase que inteiramente por clichês e se passando nos lugares que qualquer estrangeiro irá pensar ao falar em “Rio de Janeiro”.

Na verdade, talvez o erro esteja comigo, pois a ideia de “Brasil para gringo ver” está na base da série, girando em torno de cinco estrangeiros que vêm para o Rio de Janeiro por diversos motivos. No primeiro episódio, uma argentina que realizar o desejo da mãe de ter suas cinzas despejadas do Cristo Redentor, em outro, um refugiado sírio trabalha para juntar dinheiro e trazer sua família para o país. É preciso dar o devido crédito, pelo menos, de variar o perfil dos protagonistas que visitam, pois além de Argentina e Síria, há também Israel, Angola e Alemanha, cada personagem com sua motivação distinta.

Ligando essas histórias, está Seu Jorge, funcionando como uma espécie de Stan Lee carioca dentro do universo da série, mas com uma agência maior. No momento de mais dificuldade do protagonista, ele sempre aparece para oferecer sua milenar sabedoria. Dentro dessa estrutura, é tudo muito repetitivo, quase todos os episódios giram em torno de um par, o protagonista mais algum brasileiro que faz parte da jornada e, invariavelmente, um decepciona o outro, somente para resolver tudo na sequência seguinte e todos ficarem felizes para sempre.

How To Be a Carioca, é claro, é recheado de belas imagens do Rio de Janeiro, tudo muito bonito, solar, “instagramável” e digno de um comercial de agência turística, revelando a predisposição da série em ser um infoproduto, ajudando a vender pacotes de viagem, uma postura mais honesta diante do que é apresentado.

Cena da série How to be a Carioca

Até existe uma breve menção aos problemas de segurança pública da cidade, mas de maneira tão superficial que deixa evidente se tratar de uma obrigação. No episódio cinco, há menção a um tiroteio que quase vitima um aluno da escola onde o filho da protagonista estuda. O evento motiva os estudantes a se revoltarem e… separar os livros da biblioteca da escola entre autores brancos e negros, mostrando a disparidade entre os dois, enquanto o racismo de outro estudante é magicamente resolvido pela situação.

How To Be a Carioca é, no melhor dos casos, protocolar, batendo o ponto em todos os estereótipos do Rio de Janeiro, e com momentos prontos para o progressista interior dentro cada um de nós se sentir satisfeito e colocar nas redes sociais o quanto a série é “necessária”. O Rio de Janeiro é, sim, um lugar lindo, mas não do jeito que a produção apresenta. Até faz sentido, na verdade, visto que Saldanha há anos não mora na cidade. Nada contra a decisão de morar no exterior, mas tudo em How To Be a Carioca parece refletir a imaginação de alguém cuja cidade virou uma memória distante.

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