Crítica – O Paciente (Minissérie)

A psicologia humana já motivos diversas formas diferentes de pensar produções audiovisuais. Desde algumas que abordam isso de maneira mais direta, como Persona, de Ingmar Bergman, por exemplo, até outras que se utilizam como um subterfúgio dentro da própria narrativa, caso recente de Severance, série da Apple TV+. A minissérie O Paciente tenta buscar uma trajetória que vai discutir esses temas de forma mais aberta, porém que também utiliza essa mesma ideia como uma maneira de pano de fundo para o desenvolvimento da própria história. Desse jeito, consegue unir o melhor dos dois lados e construir uma trama sobre o “mal” humano.

Tudo começa com o psicoterapeuta Alan Strauss (Steve Carell). Ele trabalha com diversos pacientes com traumas e que querem melhorar em relação a si mesmos. Um desses pacientes é Sam Fortner (Domhnall Gleeson), um garoto que tem problemas de falar seus reais problemas. Certo dia, Alan acorda acorrentado em uma casa no interior rural e não entende bem o que está acontecendo. Sam chega e explica: pelas dificuldades que tinha de fazer as sessões no consultório do terapeuta, resolveu manter ele em cárcere para poder ter uma sessão “melhor” e tratar de seu principal problema, o de matar pessoas.

A grande habilidade de O Paciente é construir uma encenação que, a todo instante, constrói um imenso jogo mental entre os dois personagens. Enquanto Sam, levado por uma ideia da construção da compaixão, não vê nenhum mal em qualquer atitude do seu psicólogo, esse busca formas de demonstrar que seu paciente está evoluíndo, para poder conseguir escapar disso tudo. A criação de Joel Fields e Joseph Weisberg ainda consegue fomentar esse suspense da narrativa através das reviravoltas, que são a base da própria minissérie. São várias e em momentos sem muita conexão, trazendo sempre o tom alarmista e tenso que a própria história está abordando.

A minissérie até tenta brincar tematicamente com alguns campos, só que todos se encontram no eixo central do jogo mental. Desde dependência emocional de outras pessoas, até mesmo a dificuldade de conexão: tudo se encontra na posicologia, que é o ponto chave para onde as coisas levam. Os criadores, todavia, não buscam gerar um seriado que fosse quase teórico, em certo sentido. Ao contrário, trazem as coisas para um aspecto real, pouco se importando da veracidade dos fatos (as constantes imaginações de Alan denotam bem isso). É uma guerra mental, um contra o outro, mesmo sem seu “adversário” verdadeiramente saber qual movimento você irá fazer.

Outro aspecto que chama atenção é como ela parece ser bem dividida quanto aos protagonistas. Como dito, de início, Alan é o grande ponto central do enredo, em que tudo gira sob ele. A partir do quinto episódio, os protagonismos se equivalem, quase como se o próprio público se transformasse também no terapeuta de Sam. Ele analisa todas as suas ações e gestos, mesmo fora do local de confinamento.

O conflito de dois grandes personagens e suas psicologias em busca de influenciar um ao outro. Não a toa a citação para Persona no início de texto, já que tem elementos similares e perspectivas do andamento da encenação bem parecidas. Só que, enquanto o primeiro está atrás de observar o controle dessas mulheres, aqui são os dois homens tentando compreender quem poderá ser o primeiro a ceder. Apesar de tentar brincar com as próprias especulações, O Paciente tem em seu lado “realista”, por assim dizer, a face mais clara. Por isso mesmo, consegue soar tão absurda, confusa e intrigante ao mesmo tempo. Joel Fields e Joseph Weisberg apenas usam a mente humana como espelho e como conceito, para buscar olhar o suspense da própria terapia.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *