Love Kills e a forma curta e grossa de fazer histórias

Danilo Beyruth talvez seja um dos nomes das HQs que mais rapidamente despontou na indústria brasileira e também internacional. Começando ainda no início desse século com Necronauta, ele recebeu diversas críticas positivas, chegando ao seu maior auge de evidência no meio mais independente em Bando de Dois. Nesse contexto, se havia uma técnica/forma que o artista sempre foi especialista, essa é o jeito de desenhar a ação. Nesse último trabalho citado, tudo gira em torno das dispustas bem do estilo de faroeste, com referências visuais típicas do cinema. Apesar de ter fugido um pouco disso nas suas produções de Astronauta, ainda houve possibilidade para explorar isso, como, por exemplo, em São Jorge.

Entretanto, seus dois últimos quadrinhos, ambos lançados pela Darkside, Shirô e Love Kills mostram como essa técnica dele está em alta. Mais do que tudo, são trabalhos fechados – mesmo não sendo tão pequenos – e ainda conseguem trazer narrativas “curtas e grossas”, por assim dizer. Assim, é possível acompanhar a história muito mais pelo seu movimento de quadros, sendo impossível entender cada impacto causado por um soco ou até a forma que esses personagens deslocam em cada canto. Beyurth mostra estar mais presente do que nunca, e ainda mais.

Cena de Love Kills

Dentro dessas duas produções é ainda mais intrigante observar como houve um processo evolutivo dentro do artista para construir seus universos. Se nas suas primeiras incursões a sétima arte parece haver uma certa dificuldade ou até uma intensidade quase absoluta em cada regra estabelecida, nessas duas últimas há quase uma fluídez em cada plano. Danilo deixa a sua influência cinematográfica aflorar ainda mais, deixando claro cada quesito, além de aguçar a curiosidade do público de entender o que poderia estar acontencendo ou até mesmo quem seriam tais personagens.

Em Love Kills acredito haver ainda um traço quase experimental ao abordar seus cosmo criado. Não necessariamente um lado experimental mais estético, porém sim como uma parte presente de cada parte dessa narrativa gráfica. A primeira cena, por exemplo, é suficiente para elevar um lado mais climático de toda essa mitologia de vampiros, sempre explorada ao longo do tempo. Rememora até bastante filmes como Drácula, de 1931, ou Nosferatu, de 1922, dentro da relação de como aquele ambiente quase hostil é parte pungente de entender quem seriam os protagonistas. No caso daqui, Helena mostra-se uma figura complexa, quase aceitando aquele meio social que acabou vivendo ao longo de bastante tempo. Em Shirô, vemos mais essa urbanidade dar enfoque para como a ação está localizada nos meios, do mesmo modo como forma paupável.

É espetacular ver toda uma evolução de um artista. Isso é catapultado ainda mais quando vemos um brasileiro realizando algo cada vez mais complexo, mesmo em uma narrativa – aparentemente – simples. Com personagens sempre interessantes, apesar de muitas vezes rasos, as histórias de Danilo Beyruth trazem um caminho de entender quase uuma nova realidade, mesmo pautando seus acontecimentos dentro do nosso mundo. Todavia, imagina que, nesse mesmo meio, existe um submundo, de outras criaturas ou até outras gangues, seres e etc. Com isso, o quadrinista transforma a própria existência urbana em algo ainda mais complexo.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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