O groove cativante de Pedro Guinu em seu novo álbum: Palagô
Lançado dia 13 de setembro, Palagô, de Pedro Guinu, nos traz uma sonoridade envolvente com pegadas de jazz, pop, r&b, rap, reagge e samba, uma riqueza de ritmos mesclados junto a letras atuais e vividas pelo Rio de Janeiro. E isso não apenas por Guinu, como qualquer outro carioca nessa cidade maravilha-caótica. O álbum carrega uma critica ao sistema governamental, não apenas isso, como também traz elementos da natureza e de religião africana – estudados por Pedro – e finaliza nos entregando love songs leves de fim de tarde, daquelas de se ouvir grudado com quem ama. O cantor mineiro nos presenteia com sua riqueza cigana que capta as riquezas dos grooves junto com seu grupo composto por seu irmão Danilo Guinu (bateria), Júlio Florindo (baixo), Gustavo Pereira (guitarra/coral), Léo Mucuri (percussão), junto com o coro formado por Marcelle Motta, Tati Monteiro e Yumi Park. Antecedente a esse trabalho, Pedro havia lançado apenas EP´s e um CD intitulado com seu sobrenome Guinu, no qual, diferente do segundo, é mais melódico e soul
Os problemas enfrentados em enchentes na Lapa representadas na faixa de abertura que leva o mesmo nome do álbum – “Palagô” – onde faz uma crítica ao prefeito que muito fala e pouco faz assim como a maioria de outros governantes, passando sempre o problema para frente e deixando o povo no meio de alagamentos, buracos, e trânsitos turbulentos em um caos sem fim em meio a aventuras urbanas contra o tempo e a desordem. Em parceria com a talentosa Lienne Lyra, “Céu de Sangue” ecoa um presságio de ganância e opressão em tempos de injustiça, uma passagem tão histórica e ao mesmo tempo tão atual, luta por terras e ouro sem fim, sem tempo de pensar no povo, apenas olhar o próprio umbigo. “Amanhã” – composta por Jr Bocca e participação do rapper Thiago Matéria Prima – expressa a rotina sufocante do brasileiro comum na correria atras de um salário minimo decente, suficiente para colocar comida dentro de casa. Esse, se matando para pagar contas e cumprir prazos, sofrendo na mão de governantes ignorantes e arrogantes. Brasileiros esperançosos em uma utopia onde, como diz a letra, espera que “o cheque entre… amanhã”.
Ao decorrer das faixas somos apresentados a elementos de natureza africana, como em “Portão de Ferro”. Nesse, ele fala de um ser pecador às portas do paraíso qual insiste em induzir ao erro e deixa registrada a marca da ligação do autor com a ancestralidade africana. Contrária, “Eletromandinga”, sucumbe a zona de conforto do ouvinte, demonstrando a força dos orixás em tempos de relações passageiras e não concretas, com um ritmo e som eletrizante, expressa o grito cauteloso de uma natureza em colapso.
“Raridade” abre as portas para as love songs quais as preces de amor adoraríamos ouvir todos os dias por nossos amados ao abrir as janelas de casa, ser elogiado e valorizado pela pessoa que nos acompanha nessa correria da vida. Segue suave num amor preto precioso – palavras de Ivy Morais -, envolto de samba reggae, “um cordão, um amuleto, a levada do gueto”, como um casal abraçado subindo o Pelourinho (Salvador/BA). “Achei Amor” mostra o lado romântico do artista, um charme black com levada carioca (conhecido principalmente em Madureira, zona norte da cidade) a canção demonstra afeto por sua companheira.
Dessa forma, Pedro parece entender bem o DNA carioquês. Ele, assim, busca trazer esses elementos para a construção de uma iconografia da cidade através de uma leveza bem única. Palagô remete a ideia mesmo dos alagamentos, mas também com esse sonoridade traz uma ideia de tranquilidade, vista nos tempos de “Cidade Maravilhosa”. Em tempos de questões políticas complexas e discussões cada vez mais acaloradas sobre o uso dos ambientes urbanos, o cantor olha para isso bem mais tranquilo. É como se estivéssemos em uma mesa de bar e rindo pensando “como viemos parar aqui”.