Resenha – Dawn FM (The Weeknd)

É fato que The Weeknd, desde o estrondo que fez em 2015 com Beauty Behind Madness, nunca saiu dos holofotes. O artista tentou sempre abraçar diversas maneiras de mostrar que não era alguém fechado, único dentro de um R&B mais dançante. Mas isso ainda bem distante do lado mais experimental que ele buscou no início da carreria, com a trilogia de 2011 (transformado no disco Trilogy, de 2012). Desde então, flertando com o eletrônico, pop, rap e tudo mais, parecia que o cantor não tinha um foco claro. Obviamente lançou grandes músicas que ficarão marcadas, contudo parecia que faltava alguma originalidade, algo que ele pudesse chamar de seu. Houve flertes bem claros disso, do caminho que poderia ser trilhado em After Hours, de 2020, mas que pareciam ainda bem incipientes.

Isso tudo muda de figura quando chegamos agora, no início de 2022, no lançamento de Dawn FMThe Weeknd se transforma em uma figura que realmente nunca vai esquecer todo essa bagagem pop, de sucessos e hits de baladas e sexo. Contudo, ao transformar isso em uma consolidação bem particular, ele parece ousar em ser uma novidade, dentro de uma figurinha carimbada. Tudo é feito dentro de uma narrativa sobre o passado. Se ele já buscou bastante essas origens da música negra dentro da produção, sempre como inspiração, o artista abraça uma iniciativa meio Michael Jackson, direta e indiretamente. Assim, o objetivo não é mais rememorar essas figuras, mas se transformar em parte desse cosmo.

E toda essa novidade no olhar é feita de certos trejeitos dentro do álbum. Inicialmente, a capa. Ele se mostrando como um ser vulnerável, comparando-se aos grandes, em que é possível envelhecer e errar. Ao mesmo tempo que também é mutado como uma figura do passado, no qual sua arte não é feita para o mundo contemporâneo. Juntamos essa questão ao fato de ser como se fosse um disco transmitido na integra dentro de uma rádio. O artista até chega a brincar com diversos elementos, como uma vinheta (“A Tale By Quincy”), propaganda (“Every Angel is Terrifying”) e transições entre faixas (a passagem de “How Do I Make You Love Me?” para “Take My Breath”). Por fim, claramente, toda a inspiração da música e oitentista na produção de todas as canções.

Como foi dito antes, The Weeknd não abandona seu lado mais sensual, que sempre esteve presente nas músicas. Todavia, esse elemento aqui aparece presente em faixas de amor não correspondido, como uma tristeza inerente de um período, e menos formalmente em produções que falarão sobre sexo diretamente. É possível destacar “I Heard You’re Married” nesse sentido, como algo que vai observar um eu lírico deprimido, sem saber o que fazer com uma informação. Ou até mesmo “Is There Someone Else?”. Trazem um lado que parece com a figura do cantor que o público está acostumado, mas não empolgado com viver a vida, e sim em uma espécie de tristeza inerente.

Apesar de não ser constante dentro da proposta trabalhada no álbum, é curioso como ele buscou uma grande experimentação bem particular de uma época. É menos um disco de transposição para o passado, e mais de transposição ao presente. Existe um certo paradigma de pensar “como seriam aqueles tempos agora?”, em uma reflexão sobre os temas que a música pop sempre abordou. Nesse sentido, é possível fazer até dois paralelos bem claros: Random Acess Memories, de 2013, do Daft Punk; e Songs For the Deaf, de 2002, do Queens of the Stone Age. Duas obras que vão observar essa cosmologia do passado e dos elementos clássicos em uma visão menos distante e mais particular. Tudo isso para buscar algo novo, algo próprio.

Dentro do abordado dentro do trabalho, era bem claro como o próprio The Weeknd poderia transformar Dawn FM em algo super pretensioso. No fim das contas, até é, só que não em um olhar meio debochado de superioridade, e sim em uma tentativa de observar além. Admito que, dentro de uma perspectiva bem pessoal, nunca imaginei que o cantor poderia ser alguém que estivesse fugindo da música contemporânea. Contudo, é interessante como ele se utiliza até mesmo desses aspectos mais clássicos, que têm sido retomados – caso de sintetizadores, bateria seca e mais -, para usar em uma transformação. A intenção, verdadeiramente, não parece ser banal, e sim aglutinadora. E isso de tudo, gêneros, ritmo, música, temas e, até mesmo, da velhice. Que o rádio não pare de tocar.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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