Visão Noturna: O “horror queer” de Franklin Teixeira
Visão Noturna é, definitivamente, uma história de terror. Talvez o melhor a se dizer é que é uma história sobre ‘terrores’. O primeiro, aquele que afeta diretamente os nosso maiores medos, quando os amigos Theo e Yuri vão investigar uma morte brutal de uma mulher em Itacira, cidade fictícia da região serrana do Rio de Janeiro. Os jovens acreditam que, ao descobrir mais detalhes do caso, podem bombar o canal de Youtube Visão Noturna, dedicado a crimes reais e eventos misteriosos. Contudo, há outro terror: o sentimental. Isso porque Theo se vê confuso sobre a paixão ou não que tem pelo amigo, e o medo de expôr tudo isso.
“É quase como uma investigação que ele tem que fazer dentro dele, com o amigo, para entender esses sentimentos. Ao mesmo tempo que isso atrapalha no próprio trabalho de investigação que estão fazendo. Como foca bastante nos personagens, acho que isso tornou o mistério ainda mais rico, ao menos foi o que tentei fazer”, conta o autor Franklin Teixeira, em entrevista ao Senta Aí durante a Bienal do Livro 2023.
Por isso mesmo, o escritor gosta de chamar a obra como “horror queer”, termo que tem destaque antigo no cinema por filmes como Os Garotos Perdidos, The Rocky Horror Picture Show, Fome de Viver, As Boas Maneiras, entre outros. Todavia, se faltavam representantes na literatura, agora não falta mais. Apesar disso, as inspirações para Visão Noturna passam por Bruxa de Blair, Twin Peaks, Neil Gaiman, Haruki Murakami, até Silent Hill.
Franklin Teixeira não é um autor novato dentro da literatura nacional. Já escreveu alguns contos na plataforma Wattpad, além do romance independente Verdades Invisíveis. Seu novo livro, entretanto, é aquele de maior repercussão.
“É um livro interessante porque partiu de várias fontes. Na época em que eu estava começando a pensar nessa história, me parecia que um livro contemporâneo tinha mais acessibilidade. Só que eu me divirto mais escrevendo histórias com elementos de gênero. Ai quando comecei a realmente botar no papel, foi puxando cada vez mais para isso”, relata. “Eu meio que dei uma disfarçada, puxando para o terror, mas trazendo para o contemporâneo. Por isso acho que é um livro tão interessante para jovens e quem nunca leu suspense, porque foca muito no drama pessoal. Eu gosto disso tanto em filmes, quanto em livros, o horror que pega pelos sentimentos”.
E Visão Noturna é uma trama sobre sentimentos. Desde de os que se relacionam com o terror, como citado anteriormente, até mesmo aqueles que brincam com o próprio lugar. Itacira, apesar de uma cidade de ficção, é muito relacionada ao passado de Franklin:
“Eu sou de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no Rio, mas passei boa parte da minha juventude indo para Teresópolis, na região serrana. Por isso esse local é muito inspirado pela região”. A região serrana, aliás, que tem como marca registrada a neblina, elemento que aparece desde a capa da obra. “Eu acho que a neblina é um elemento visual característico dessa região e para o terror. Gosto muito da cidade e do local sendo elementos da história”, afirma.
Mas se engana quem pensa que Visão Noturna também não é um livro de terror. Durante a entrevista, o escritor lembra que leitores beta tinham destacado que faltava ainda mais investigação dentro da história. Atento a isso, Franklin Teixeira colocou cada vez mais uma trama em que o horror aparece de todas as formas.
“O próprio Theo é pertubado desde o começo da vida. Ele tem uma melhorada, mas, quando chega na cidade, volta a sentir pressão e a ter pesadelos. Com isso e a possibilidade de algo sobrenatural estar acontecendo, ele duvida até da própria interpretação das coisas. Definitivamente, a tensão vai crescendo a cada nova página”, completa.
