Watchmen continua clássica HQ buscando uma roupagem racial

No dia 31 de maio de 1921, a cidade de Tulsa, no estado de Oklahoma, Estados Unidos, foi alvo de uma imensa convulsão social. Ali, brancos realizaram sucessivos ataques perante a comunidade negra até o dia seguinte, 1 de junho. Essa história – por tão bizarra que é -, poderia fazer parte da ficção, contudo é presente fortemente dentro da vida americana. Dentre as esmitativas oficias desse acontecimento, estão mais de 300 negros mortos, cerca de 800 internados em hospitais, além de 10.000 desabrigados. Essa questão extremamente complexa foi levada para o mundo ficcional, todavia trazendo uma relação muito fiel ao real. Assim foi iniciado a série da HBO Watchmen.

“Os quadrinhos originais são bem politizados”, contou em entrevista a Folha o criador da produção, Damon Lindelof, citando toda a relação com a Guerra Fria do período. “Qual seria o equivalente, em 2019, ao duelo nuclear entre EUA e União Soviética? Achei que seria raça e policiamento. O que faz de Watchmen uma obra-prima é não se interessar em falar quem são os heróis e os vilões. É o estudo das instituições, da cultura e da política”.

Lindelof, aliás, até realizar esse trabalho galvou uma carreira complexa dentro da própria indústria hollywoodiana. Ele iniciou na TV ainda nos anos 90, com as séries Wasteland e Undressed. Apesar disso, seu sucesso começaria mesmo em 2004, quando fez, junto de J. J. AbramsJeffrey Lieber, Lost. Seu nome ainda o catapultou para realizar um dos maiores sucessos da crítica televisiva dos últimos anos. No caso, estamos falando de The Leftlovers, na qual não teve muita força com o público.

A partir disso, o roteirista e produtor resolveu arriscar. Realizar uma adaptação de Watchmen parecia bem complexo, ainda mais pelos diversos elementos e detalhes onipresentes dentro da trama. Zack Snyder tentou fazer isso em 2009 e, apesar do longa ter ganhado certos fãs, não conseguiu um resultado perfeito. Alan Moore, um dos criados da HQ original, é outro que sempre criticou adaptações de suas obras e essa não seria diferente. Isso tudo só corroborou para trazer um conceito mais diferenciado, no caso, trazer uma continuidade para o material original. Isso ainda com o agravante de ser nos dias atuais.

Porém, nesse instante você poderia se perguntar qual a relação feita lá em cima com a situação de Tulson. Bom, ela, abre todo o primeiro episódio dessa temporada e deverá ter uma relação forte com os personagens novos. Um grupo de supremacistas brancos ainda trazem esses elementos, por se inspirarem em Rorschach, morto no quadrinho. Os policiais, para conseguirem se defender dessas milícias fascistas, ainda se utilizam de máscaras para não serem identificados facilmente.

Nesse contexto somos apresentados aos heróis protagonistas dessa trama. No caso, a principal é Angela Abar (Regina King), uma policial de Tulsa que asume a identidade de Sister Night. Ela ainda tem como parceria seu colega Looking Glass (Tim Blake Nelson), com uma máscara espelhada. Há ainda, para ajudá-los a combater os supremacistas, o chefe da polícia Judd Crawford (Don Johnson). Eles, em tentativas de investigação, ainda terão que lidar com alguns pesos do passado, especialmente pela explosão provocada por Ozymandias (Jeremy Irons).

“Projetos que me põem em posição de vulnerabilidade me atraem. Estamos em um momento da cultura no qual desejamos revisitar as coisas que amamos no passado”, continuou Daniel em entrevista para a Folha. “Não sei como quebrar esse ciclo, a não ser criando um ângulo original numa ideia nostálgica”.

Bom, se depender do showrunner isso não será pouco. Estar em vias com uma HQ tão amada e respeitada como essa não seria um trabalho fácil, entretanto Watchmen parece ter agradado bastante até os mais temerosos – ao menos em seu episódio de estreia. A média no site Metacritic, por exemplo, foi de 85, até bem interessante para a proposta diferenciada. Não é possível, todavia, dizer que será uma continuidade disso até o final dessa primeira temporada, na qual Lindelof já disse que quer passar para outra pessoa. Enquanto é impossível saber, resta apenas ouvir o relógio

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *