Cobertura Olhar de Cinema 2020

Por Cláudio Gabriel e Guilherme Rodrigues

Nessa postagem falaremos sobre todos os filmes vistos durante o Olhar de Cinema 2020, com breves comentários sobre todos. Os que tiverem críticas com maiores detalhes dos longas em si estarão com o link embaixo:

. O tango do viúvo e seu espelho deformador

Em uma espécie de conjunção experimental e uma homenagem, nos defrontamos com a estranheza estética de O Tango do Viúvo e seu Espelho Deformador. Isso porque o longa, na realidade, é o primeiro filme do cineasta Raul Ruíz, de 1967 – esse, já morto. Assim, sua víuva, Valeria Sarmiento, achou a película da produção e resolve transformá-la, dando um fim em sentido e contexto. Ela deixa toda a projeção rodar como estava para ser até 30 minutos, quando faz um espelho e faz toda a obra retornar, de frente para trás.

Na história, acompanhamos um homem que vê sua mulher ser morta. Assim, ele começa a ficar atormetado pelas imagens dela, em uma lembrança quase em loopíng, se questionando: e se aquela morte não for um acidente? Sera que ela poderia estar realmente morta?

Nesse conceito, a direção brinca sempre com uma espécie de jogo de cena, trazendo uma narrativa sobre fantasmas do tempo. A ideia é bastante desenvolvida nesse sentido espacial, pela perda, da necessidade do retorno da pessoa amada. Esse sentido cria uma conexão profunda com a própria história pessoal que envolve os bastidores do filme, de luto, ao mesmo tempo que também ecoa nessa dança de tango, e o retorno de trás para frente.

Apesar desse caminho experimental, é um longa realmente que busca o gênero para sua trama, na tentativa de demonstrar um entendimento sobre a existência. Até que ponto realmente estamos vivendo no mundo ou apenas co-existindo? Difícil dizer. É apenas fácil entender como os fantasmas ainda nos atormentam.

Nota: 4/5

. Los Lobos

Confira nossa crítica aqui.

Nota: 2,5/5

. Nardjes A.

Confira nossa crítica aqui.

Nota: 2/5

. Quem Tem Medo de Ideologia?

Logo de cara, Quem Tem Medo de Ideologia? promove uma certa inquietação, de deslocar o espectador de uma posição de conforto. Ao abrir o filme falando da necessidade de nos reconhecermos como parte da natureza, e não algo externo a ela, com uso de termos acadêmicos, a diretora Marwa Arsanios já faz questão de mostrar que a proposta é reflexão. Longe de ser um filme de respostas, é um filme de perguntas, como o título já indica.

Outro aspecto dessa abertura é a dessincronização audiovisual: o que ouvimos não está de acordo com o que Marwa fala durante sua caminhada, e na verdade nem há como saber muito bem se é a mesma coisa. Essa separação do que se ouve com o que se vê, gera, novamente, um incômodo, mas essa tática é usada com mais potência nas sequências seguintes. Enquanto na tela vemos imagens da natureza, especificamente de montanhas, o áudio são de várias entrevistas que a diretora realizou com mulheres em regiões de guerra, e sua relação com a natureza. Em seguida, há uma inversão: vemos as entrevistas sendo feitas, mas com o audio dos cenas prévias, ou seja, vento.

Se a ideia é justamente mostrar que não há uma separação entre nós e a natureza, nos forçando a reconhecer a presença desta todo o tempo, é uma maneira muito interessante de reforçar esse ponto, mas também gera um certo esgotamento na forma do documentário. Ao começar de forma tão particular, é uma pena que o desenrolar dele seja de forma mais tradicional, com as entrevistas e etc. Quem Tem Medo de Ideologia? Nunca deixa de ser interessante, mas é uma obra que não superar o seu próprio começo.

Nota: 3/5

. Alienígena

Há uma jeito muito característico no jeito que as duas protagonistas de Alienígena comem na cena inicial do filme. Não há comida sendo saboreada, simplesmente engolida. Os gestos são precisos e rápidos. Antes mesmo de uma das duas se levantar e dizer que elas precisam voltar a trabalhar, é possível identificar que aquela cena envolve duas trabalhadoras no seu intervalo de almoço, um momento que deveria feito com tranquilidade se tornou um obstáculo a ser resolvido do modo mais rápido possível para que não atrapalhe o trabalho. O título então ganha vários significados, já que, além das duas serem imigrantes, elas se tornaram estranhas a si mesmo, vivendo somente para trabalhar.

Mas esse também é o único momento compartilhado entre as duas no apartamento que ocupam. Logo em seguida, uma delas morre no trabalho, e a única presença humana que poderia fazer a companhia a outra se foi. Esse almoço, tão mecanizado, é também o unico momento que não envolve o trabalho, e assim, o diretor Yeon Je-gwang passa a trabalhar os vazios daquele espaço diminuto, dando o tom daquela tragédia ao mesmo tempo particular e universal.

Nota: 3,5/5

. Algo-Rhythm

Mais cedo neste ano, a Netflix lançou O Dilema das Redes, que contou com a presença das mesmas pessoas responsáveis por tornarem as redes sociais o buraco que são, procurando dar diagnósticos sobre como essa situação pode melhorar. A hipocrisia foi amplamente apontada por pessoas menos deslumbradas. Nesse sentido, Algo-Rhythm é o antídoto a obras que se esquivam de críticas reais ao sistema.

Ao começar pelo como como o curta se apresenta, como um debate presidencial ao ritmo de hip-hop, o que por si só já representa uma postura de desafio, e onde não há meias palavras para criticar aquilo que a internet se tornou. Os perigos do todo poderoso algoritmo são expostos e desconstruídos nas rimas e até mesmo na pequena história que se apresenta, com um candidato usando de big data para derrubar a imagem do outro. Ao fundo, imagens digitais compõem o cenário, com formas humanas sem muita definição representando a informação que se obtém de cada um. Para não deixar dúvida do que o curta quer dizer, uma cantora grita “Facebook e Google não são seus amigos!”. Uma ferramenta de agitação social que não tem medo de mostrar sua cara.

Nota: 5/5

. Na Cabine de Exibição

O ato de filmar nunca é algo imparcial. Retratar algo por meio de uma câmera envolve, necessariamente, uma série de decisões que, naturalmente, alteram aquilo que está sendo visto. A imagem gravada nunca é aquilo que está sendo gravado, mas uma versão. Tão pouco o ato de assistir é algo, digamos, “puro”. Vivemos em um mundo que nos bombardeia de informações e referências, que mesmo inconscientemente informam nossa visão de mundo.

Nesse contexto, o velho ditado “ver para crer” acaba soando um tanto ingênuo, já que ver algo envolve uma série de mecanismos que nem sempre percebemos. É o estudo desse ato de ver que é o foco de Na Cabine de Exibição, produção em que o diretor  Ra’anan Alexandrowicz expõe uma estudante americana a uma série de vídeos filmados por organizações pró e contra Israel, e investiga a reação dela aos vídeos, enquanto dialogam sobre o porquê dessas reações. É curioso ver como a espectadora, por exemplo, mesmo defrontada com imagens não ficcionais, ainda usa como referência uma obra ficcional – no caso uma série da Netflix – na sua percepção desses vídeos. Nem o próprio documentário é eximido de ser entendido como um trabalho necessariamente manipulativo, como Alexandowicz faz questão de lembrar no último plano do filme, focado na lente da câmera que filmou a sua “cobaia” durante todo esse tempo.

Nota: 4/5

. Canto dos Ossos

Confira nossa crítica aqui.

Nota: 3/5

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